Arte em perigo nas ruas de Xangai
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Às vezes a expressão artística surge onde mesmo se espera. É o caso dos belos graffitis num bairro parcialmente demolido em Xangai. Mas essas obras podem estar prestes a desaparecer.

Esta poética arte de rua que presta homenagem à velha Xangai está a ser apagada pelos burocratas.

As autoridades chinesas estão a ser alvo de críticas por estarem a limpar graffitis das paredes de um bairro destinado a ser demolido no distrito Jingan do centro de Xangai. Os graffitis – imagens fantásticas como uma rapariga a dormir agarrada a um livro ou de outra a guardar uma casa acompanhada por poesia clássica chinesa – eram populares entre a população local que gostava de explorar as casas e edifícios meio demolidos só para poderem apreciar um pouco de arte de rua, que é quase escassa na maioria das cidades chinesas. Houve até casais que começaram a tirar fotografias de casamento lá.

As autoridades disseram que os graffiti foram limpos durante o fim-de-semana por questões de segurança, para impedir que a população local visitasse o espaço com os edifícios decrépitos devido ao risco de poderem ruir a qualquer momento. Um oficial contou à comunicação social chinesa que “Existem outras formas para as pessoas apreciarem arte popular no distrito Jingan que também é grátis e muito boa”.

Já não é a primeira vez que as autoridades tomaram medidas extremas quanto aos graffitis – no final de 2013, deitaram abaixo na rua Moganshan a única parede onde era permitido fazer arte de rua da cidade.

Para os residentes e outros observadores, a questão está ligada à supressão de criatividade do que propriamente à arte de rua. Muitos bloggers deixaram centenas de comentários num artigo de notícias publicado no Weibo sobre a limpeza dos graffiti. Um respondeu:

“A principal questão é que o nosso governo está a impor barreiras às ideias e criatividade das pessoas”.

Outro acrescentou “As autoridades não têm coração, nem sabem sequer tolerar a beleza efémera”. Um outro utilizador chegou mesmo a dizer “A Arte não é inimiga do poder".

A popularidade dos graffitis também se pode ser devido à nostalgia, que evoca os bairros tradicionais de Shangai que estão rapidamente a desaparecer. O bairro da Estrada Kanding via 600 era um dos poucos exemplos que restavam de shikumen, um tipo de moradias apertadas que combinam a arquitetura ocidental com a chinesa e que se tornou popular pela primeira vez em 1860. Nesta fotografia, o caractere chinês chai, que é rabiscado pelos demolidores nas paredes para assinalar quais as que vão ser demolidas, é desenhado como uma fruta numa árvore:

As palavras escritas na parede são de um poema da dinastia Tang que diz: “Não há pradaria que o fogo totalmente queime. A brisa primaveril sopra-a de novo para a vida.”

As palavras na parede são de um poema da dinastia Tang que diz: “Ontem à noite, o vento e a chuva fizeram-se ouvir, quantas flores terão caído.”

“Uma esferográfica da qual cresceu um sonho” é uma expressão idiomática utilizada às vezes para descrever uma história muito bem escrita. Esta expressão surgiu de uma história sobre um poeta da dinastia Tang chamado Li Bai, que um dia, quando era rapaz, sonhou que tinham nascido flores da ponta do seu pincel.

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