James Altucher é o entrevistador de um podcast em que questiona pessoas bem-sucedidas nas suas áreas. Depois de 80 entrevistas reparou em certos padrões na forma de agir dessas pessoas. Aprenda com elas.
“Você interrompe demasiado as pessoas,” queixam-se de mim por email. “Deixe os seus convidados terminar o que têm a dizer primeiro.”
Mas não consigo evitar. Fico curioso. Quero saber! Já!
Ao longo do ano passado, entrevistei cerca de 80 convidados para o meu podcast. O meu único critério: sentia-me fascinado por um determinado aspeto de cada uma dessas pessoas.
Não me limitei a dizer “esta gente tinha de ser empreendedora” ou “têm de ser um sucesso.”
Só queria meter conversa com alguém que me fizesse sentir curioso em relação à sua vida. Falei com empreendedores, comediantes, artistas, produtores, astronautas, escritores, rappers e até com o maior produtor de cerveja do mundo.
Se vou voltar a fazer isto no próximo ano? Talvez. É difícil saber.
Às vezes perseguia um convidado durante seis meses sem que ele desse sinais de vida e depois do nada ligava-me a dizer “Pode fazê-lo agora?” e lá tinha de mudar de planos com os meus filhos, a Claudia, a empresa.
Não tinha favoritos. Todos eram fantásticos. Entrevistei o Peter Thiel, Coolio, Mark Cuban, Arianna Huffington, Amanda Palmer, Tony Robbins e muitos mais. Fiquei mesmo muito agradecido por todos quererem falar comigo.
Para ser sincero, o podcast serviu apenas de desculpa para poder telefonar a quem eu quisesse e perguntar-lhes todo o tipo de perguntas pessoais sobre as suas vidas. Se eu quisesse falar sobre o “Star Wars”, telefonava ao autor de uma dúzia de romances da série.
Se eu quisesse falar sobre os Twisted Sister, telefonava para o fundador da banda. Se eu quisesse falar sobre sexo, telefonava às mulheres que dirigem o podcast “Ask Women (Perguntem às Mulheres) ”.
Queria saber em que ponto nas suas vidas é que se encontraram no seu pior. E como conseguiram dar a volta por cima. Cada um deles criou uma vida única. Queria saber como o fizeram. Estava realmente sedento de curiosidade.
Tal como me disse o Coolio, “Fizeste-me revelar coisas profundas que não queria revelar. Tiro-te o chapéu.”
O Tony Robbins até teve literalmente de se abanar a uma certa altura e dizer “Espera lá, como acabámos a falar sobre isto?” Não consigo evitá-lo. Quero saber.
Aqui ficam as coisas mais importantes que aprendi.
1. A vida mede-se em décadas
A maioria das pessoas querem felicidade, amor, dinheiro, contatos, tudo para ontem. Também eu. A isso chamo-lhe “a doença”. Muitas vezes sinto que só consigo preencher um determinado vazio interior se… e só se… tiver X.
No entanto, uma boa vida é como as chamas de uma fogueira. Ela é composta devagar e por ser lenta e quente, aconchega o coração em vez de o destruir.
2. A vida é medida pelo que fizeste HOJE, até mesmo este momento
Este é o oposto do ponto “A”, mas ao mesmo tempo é o mesmo. Só se consegue ter sucesso daqui a umas décadas se se for bem-sucedido agora.
E isso não quer dizer ter dinheiro agora. Quer dizer “Estará a dar o seu melhor hoje?”
Todos eles trabalharam na sua saúde física, melhorando as suas amizades e relações uns com os outros, a serem criativos, ao serem agradecidos. Todos os dias.
Os que não o fizeram, rapidamente ficaram doentes, depressivos, ansiosos, receosos. Tiveram de mudar as suas vidas. Quando fizeram essa mudança todos me disseram universalmente “foi aí que tudo começou.”
3. A Concentração não é importante, mas sim o Impulso (reinvenção)
São poucas as pessoas que só têm uma carreira. E nunca nenhuma carreira é direta.
Quando só existe a concentração, é como dizer-se “Vou só aprender sobre uma coisa para sempre.” Mas “o impulso” é a capacidade para se levantar todos os dias, abrir as persianas e avançar contra tudo o que o faça ter vontade de voltar a dormir.
Mesmo que isso signifique ter de mudar de carreira 10 vezes. Ou mudar completamente de vida. Simplesmente dar o salto em frente para criar um pouco mais de vida dentro de si.
Uma vida completa é muito mais forte do que um interesse completo.
4. Dá sem pensar no que vai receber em troca
Penso que não tenha havido uma única pessoa com as quais falei que acreditasse na definição de objetivos pessoais. Mas 100% delas queriam resolver pelo menos um problema de muitos desses objetivos.
Não interessa o como dá todos os dias. Nem mesmo o quanto dá. Mas todos queriam dar e eventualmente receber o mesmo em troca.
5. Resolver problemas difíceis é mais importante do que ultrapassar um fracasso
Tony Robbins
O mundo exterior é um reflexo daquilo que se tem por dentro. Se o Thomas Edison tivesse visto as suas 999 tentativas para criar uma lâmpada incandescente como um falhanço, então teria desistido. Era curioso. O seu eu interior via essas “tentativas” como experiências. Assim, chegou à 1000ª tentativa. E graças a ela, agora conseguimos ver no escuro.
Dan Ariely ficou queimado pelo corpo todo e utilizou essa experiência como pretexto para investigar a psicologia da dor e por fim, a psicologia do comportamento e de como podemos tomar decisões melhores.
O Tony Robbins perdeu tudo quando o seu casamento terminou, mas acabou por regressar como instrutor para mil pessoas.
É a forma como se vê a vida dentro de nós que se cria a vida à nossa volta. Todos os dias.
6. A arte, o sucesso e o amor, tem tudo a ver com a ligação de pontos
Aqui estão alguns pontos: A própria tristeza pessoal que reside dentre de si. As coisas que aprende. As coisas que lê. As coisas que adora. Ligue todos os pontos. Dê-os a alguém.
Agora acabou de criar um legado que irá continuar muito depois de si.
7. Não é uma questão de negócios, é uma questão pessoal
Ninguém conseguiu triunfar com uma boa ideia.
Todos os que são bem-sucedidos conseguiram-no porque construíram redes dentro de redes de conhecimentos, amigos, colegas, todos a lutar pelos seus próprios objetivos pessoais, todos a confiar uns nos outros e a trabalhar em conjunto para se ajudar uns aos outros a triunfar.
Isto é o que acontece apenas com o tempo. É por isso que dar cria um mundo maior que não se pode prever o que irá acontecer nos próximos anos.
Biz Markie descreveu-me como ajudou um miúdo de 7 anos que se chamava Jay-Z com as suas letras de músicas.
Os antigos funcionários de Peter Thiels criaram empresas no valor de dez mil milhões de dólares.
Marcus Lemonis salva empresas todas as semanas no seu programa de televisão “The Profit”. E não o faz consertando as suas contas. Fá-lo consertando as relações com os parceiros, os clientes e os investidores.
A melhor maneira para se criar uma empresa ao longo do tempo é assim: envie todos os dias uma carta de agradecimento a alguém do seu passado. Muitas pessoas (como eu) dizem muitas vezes que não se deve olhar para o passado. Mas esta é a maneira para o conseguir. Cria-se o futuro agradecendo o passado.
8. Não pode prever o futuro, só se pode dar o seu melhor
Clayton Anderson
Hugh Howey pensou que os únicos leitores que alguma vez teria dos seus romances seriam a sua família. Por isso, escreveu dez. Por fim, escreveu “O Silo” e publicou-o ele próprio, vendendo milhões de cópias e tendo o Ridley Scott a fazer a adaptação em filme.
Durante 15 anos seguidos, Clayton Anderson candidatou-se para ser um astronauta e foi sempre rejeitado até à 16ª vez.
Coolio escreveu letras de canções todos os dias durante 17 anos antes de conseguir um hit. Noah Kagan foi despedida do Facebook e da Mint sem receber um tostão antes de criar a sua empresa. Wayne Dyer demitiu-se do seu cargo seguro como professor catedrático, enfiou uma catrefada de livros no carro e viajou pelo país para vendê-los pelas livrarias. Agora, já vendeu mais de 100.000.000 de livros.
Às vezes, quando tenho conversas com estas pessoas, querem logo partir para a parte do sucesso, mas eu paro-os. Quero conhecer os pontos mais baixos. Os pontos nas suas vidas em que tiveram de começar a dar o seu melhor. O que é que os colocou nesse ponto.
9. A mesma filosofia de vida deve funcionar tanto para o imperador como para o escravo
Ryan Holiday contou-me que tanto Marco Aurélio, um imperador, como Epictetus, um escravo, seguiam os ideais do estoicismo. É impossível prever-se o prazer ou a dor. Apenas se pode lutar pelo conhecimento, por dar o seu melhor, pela justiça e pela saúde todos os dias.
Muitas pessoas escrevem-me dizendo que é muito fácil para ele dizer isso porque agora já é rico. Todas as pessoas com as quais falei começaram numa situação enrascada ou pior. (Bem, a maioria deles.)
A sorte é certamente um componente, mas no xadrez existe uma expressão (que pode ser aplicada a tudo) que diz “é engraçado como os melhores jogadores parecem ter sempre sorte.”
10. O único caminho certo é o caminho que para si parece certo
Scott Adams tentou 20 carreiras diferentes antes de se ficar pelo desenho do Dilbert. Agora, está em 2000 jornais, escreveu livros sobre o Dilbert, criou espetáculos do Dilbert, tudo do Dilbert. Ficou tudo chocado quando Judy Joo se demitiu da sua carreira na Wall Street para voltar para escola de culinária. Atualmente aparece no Food Channel como um “chefe de ferro”.
Não deixe que sejam as outras pessoas a escolher a sua carreira. Não fique preso nas prisões que as outras pessoas armaram para si. A liberdade pessoal começa no interior de cada um de nós, mas eventualmente vai transformando-nos num gigante capaz de se libertar das correntes que as pessoas pequenas passaram anos a enrolar à nossa volta.
11. Muitos momentos de interações pequenas, positivas e pessoais constroem uma carreira extraordinária
É comum pensar-se que se tem de batalhar muito para se chegar ao topo. Mas todas as pessoas com as quais falei disseram que foram pequenos atos de bondade durante um longo período de tempo que construiu as escadas para o sucesso. Acho que estou a começar a soar um pouco cliché em relação a este assunto. Mas só é um cliché porque é a verdade.
12. A sua saúde primeiro
Kamal Ravikant conseguiu salvar-se de uma tendência suicida ao repetir constantemente para si próprio “amo-te”. Charlie Hoehn curou a sua ansiedade ao aproveitar cada momento para jogar.
Já tinha escrito há algum tempo: uma criança normal ri-se 300 vezes por dia. Um adulto normal… 5.
Alguma coisa cortou a nossa capacidade para nos rirmos. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para se rir, para criar o riso nos outros e depois o que é que poderá correr mal hoje? É por isso que tento entrevistar tantos comediantes e escritores de comédia. Fazem-me rir. É mesmo egoísta.
13. As pessoas acabam por adorar aquilo em que são bem-sucedidas, ou são bem-sucedidas naquilo que adoram
Mark Cubain disse-me, “A minha paixão era ser rico!” Mas não acredito muito nele. Ele adorava computadores, por isso criou uma empresa de software. Depois, queria ver o jogo de basquetebol de Ohio em Pittsburgh, por isso criou o Broadcast.com. Cheguei a trabalhar um pouco na Broadcast.com em 1997. Foram uns autênticos cruzados na luta para trazer o vídeo para a Internet.
É claro que ele queria utilizar tudo isso para ficar rico. Porque ele sabia melhor do que ninguém como deixar uma boa ideia guiá-lo até ao sucesso.
Mas lá no fundo, ele era uma criança que apenas queria ver o seu jogo de basquetebol favorito. E agora o que é que faz? É dono de uma equipa de basquetebol.
14. Qualquer um em qualquer idade
A idade das pessoas com as quais falei rondava os 20 e os 75 anos. Todos eles ainda são ativos todos os dias no diálogo mundial. Perguntei ao Dick Yuengling da cerveja Yuengling porque é que se deu ao trabalho de vir falar comigo. Tem 75 anos e dirige uma das maiores fábricas de cerveja da América no valor de $2 mil milhões. Ele riu-se e respondeu, “Bem, foi você que pediu.”
Apercebi-me que esta lista pode abordar mais 100 itens.
As particularidades do sucesso. Como ultrapassar as dificuldades. Como é que cada pessoa pode contribuir para mover a sociedade.
Ou mesmo quais são as horas mais produtivas do dia, qual a palavra mais importante para o sucesso e o que poderemos esperar no próximo século e talvez 100 outras coisas.
Por fim, acabei por aprender algumas coisas sobre mim.
A maioria das pessoas que eu convidei a participar no meu podcast responderam “NÃO!” Ainda no outro dia estava a contar à Claudia que nunca tinha sido tão rejeitado assim desde o meu ano de caloiro na escola secundária. Tive de aprender novamente a lidar com tanta rejeição.
Sempre fui um grande leitor, mas nunca ao ponto em que fui este ano. Li tudo o que tinha sido feito pelos meus convidados.
Durante semanas, tive a sensação de que gastava umas 10 horas por dia a preparar-me para os podcasts. Aprendi a entrevistar, a ouvir, a preparar, a perseguir, a entreter, a educar.
O Podcast parece estar a tornar-se numa indústria, ou numa ideia de negócio, ou algo a que os empreendedores ou investidores devessem prestar atenção. Quanto a isso, não faço ideia.
Para mim, o podcast que fiz este ano foi simplesmente para telefonar a uma pessoa com a qual queria ter uma conversa e conversar com ela. Sentia-me como um rapazinho a entrevistar os seus heróis.
Recomendo vivamente que se encontre maneiras de se telefonar a pessoas seja qual for o pretexto. Aprendi imenso com a experiência.
Mas foi complicado!
É uma daquelas situações em que posso dizer “Não sei se consigo voltar a fazer isso de novo.”