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Atingir a “automatização” significa conseguir tornar uma competência acabada de adquirir parte de si mesmo – em vez de algo que simplesmente consegue fazer. Conheça a opinião de Benjamin P. Hardy, que colabora com o medium.com.

Introdução

A aprendizagem de algo novo relaciona-se com a memória e com a forma como a utiliza. No início, o córtex pré-frontal – que armazena a memória de trabalho (ou de curto prazo) – fica ocupado a tentar descobrir como realizar a tarefa. É esta parte do cérebro que está envolvida na tomada de decisões conscientes.

Assim que você se torna competente nessa tarefa o córtex pré-frontal pode descansar. De facto, fica quase 90% livre; passa a desempenhar essa competência automaticamente e a sua mente consciente pode concentrar-se noutras coisas.

Esse nível de desempenho, a “automatização”, depende daquilo a que os psicólogos chamam “sobreaprendizagem” ou “sobretreino”. Seguem-se algumas indicações sobre como sobretreinar o cérebro para fazer algo tão bem ao ponto de o fazer inconscientemente – e sobre o que pode esperar assim que chegar a esse estado.

Para além da automatização

Se aprendeu a conduzir é possível que passe cada minuto a pensar noutras coisas enquanto está atrás do volante – sem se dar conta do que está a fazer.

Com competências mais complexas e especializadas acontece algo semelhante. No seu livro The Art of Learning (ou A Arte de Aprender), o prodígio do xadrez e campeão mundial de tai chi Josh Waitzkin avança a seguinte explicação para a automatização:

"Agora que a minha mente consciente se concentra em menos coisas parece aumentar a sua velocidade de obturação de, digamos, quatro fotografias por segundo para 300 ou 400 fotografias por segundo. A chave passa por compreender que a minha mente treinada não está necessariamente a funcionar mais rápido do que uma mente não treinada – está simplesmente a funcionar mais eficazmente, o que significa que a minha mente consciente tem menos coisas com que lidar."

Por outras palavras, a automatização é o processo de passar do fazer para o ser – obter as ferramentas para se tornar num(a) perito(a) e inovador(a).

Repetição, repetição, repetição

O primeiro passo para se atingir a automatização consiste em aprender a partir da repetição de pequenas parcelas de informação. Por exemplo, se estiver a praticar basquetebol, tal pode significar ter de fazer o mesmo lançamento vezes sem conta. O objetivo aqui será afastar-se o mais longe possível do ponto inicial de domínio.

Sobretreinar é praticar continuamente algo que já se aprendeu de cor e salteado. A partir do momento em que sobreaprende uma competência deixa de precisar de um guião e pode desempenhar ou até mesmo ensinar essa competência de várias formas e em contextos diferentes.

Os grandes oradores sobreaprendem os seus discursos para poderem apresentar o seu material de várias formas, para cada tipo de audiência e sob vários tipos de circunstâncias.

Por outras palavras, a automatização não passa apenas por ser-se fluente em determinada arte – passa também por ser-se fluído e flexível. Tal como Pablo Picasso uma vez disse “Aprende as regras como um profissional para que as possas quebrar como um artista”.

A prática leva à perfeição

O segundo passo para atingir a automatização consiste em ir tornando o treino progressivamente mais difícil. Simples! Tal e qual como ir aumentando os pesos e a intensidade num treino físico.

O objetivo passa por ir tornando a tarefa cada vez mais difícil até chegar a um ponto em que se torna demasiado difícil. Quando chegar a esse ponto, diminui ligeiramente a dificuldade para se manter perto do limite máximo da sua capacidade atual.

Ao mesmo tempo que aumenta a intensidade do treino também começa a acrescentar limites de tempo. Alguns professores de matemática pedem aos alunos para realizarem exercícios difíceis em períodos de tempo cada vez mais pequenos.

Acrescentar a componente tempo desafia-o em dois sentidos. Primeiro, força-o a trabalhar mais rápido; e segundo, enfraquece uma parte da memória de trabalho ao forçá-la a permanecer consciente quanto à passagem do tempo.

O terceiro e último passo para a automatização passa por praticar com uma memória cada vez mais ocupada – ou seja, tentar fazer uma tarefa mental com outras coisas em mente. Trocando por miúdos: acrescentar, de propósito, distrações ao seu regime de treino.

Mais uma vez, os professores de matemática podem pedir aos alunos que se lembrem de algo não muito falado e que se recordem imediatamente a seguir a terem resolvido um problema de matemática.

Tim S. Grover avança um exemplo no seu livro Relentless (Implacável): o facto de jogadores de basquete beberem umas quantas cervejas no intervalo de um jogo para provar que conseguem vencer os seus rivais sob condições debilitadas.

Do fazer ao ser

Este processo de sobretreino tem como objetivo fazê-lo passar por cada uma das três fases de aquisição de conhecimento processual, ou seja, do conhecimento associado à realização de uma tarefa específica.

Começa-se pela “fase declarativa”, em que se aprende a descrever como determinada coisa funciona. Nesse momento a nossa compreensão é mais teórica.

A seguir, na chamada “fase associativa”, começamos a aplicar e a praticar o que aprendemos. Pensamos e desempenhamos a competência em simultâneo.

A automatização surge na terceira e última fase, a “fase automática”. No entanto, a sobreaprendizagem leva-nos mais longe; existem algumas provas de que exceder a automatização torna o conhecimento processual que se acabou de adquirir mais flexível, explícito, manipulável e disponível ao acesso consciente.

Por outras palavras: faz determinada tarefa ou competência tão inconscientemente que essa mesma tarefa ou competência passa a fazer parte de si, deixa de ser apenas uma coisa que consegue fazer. Isto dá-se numa mudança interna mesmo a seguir à terceira ou fase “automática”. É possível observá-lo em crianças a aprender matemática ou a aprender a ler. No início é difícil e muitas tentam resistir.

No entanto, à medida que vão melhorando, começam a associar o significado e a ver valor na nova competência. Se isso não acontecer, então não se irá dar essa mudança interna. Assim que um principiante ou aprendiz começa a acreditar que consegue ir mais além da automatização – quando consegue sentir a inteligência fluida em vez de fixa – a sua motivação passa de extrínseca para intrínseca.

Pegando nas palavras de Iayman: é ter o coração em sincronia com aquilo que se aprendeu. Presenciei recentemente esta mudança no meu filho adotivo de oito anos. Agora lê porque quer e não porque tem de ser – e até temos de o obrigar a parar de ler.

Quando se começa a aprender alguma coisa é necessário foco na mecânica; o conhecimento que está a tentar ganhar é de facto processual, por isso, o seu desempenho vai ser baseado na imitação de outras pessoas – quanto a regras, processos e diretrizes. Contudo, a automatização desbloqueia um campo de ação muito maior – e nesse nível realizar uma competência torna-se muito mais natural e individual. É aqui que aquilo que faz se torna uma extensão natural daquilo que é.

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