Lucy Nicholson/Reuters
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Com 40 anos de carreira Prince marcou várias gerações. O seu carisma, musicalidade e presença em palco não serão esquecidos.

“I don’t wanna die / I’d rather dance my life away” – cantou Prince em “1999”, uma letra que não pode deixar de ser considerada à luz da chocante notícia da sua morte aos 57 anos.

Havia alguns grandes temas nas canções de Prince mas a sua visão da mortalidade poderá explicar tudo o que fez na sua carreira de quatro décadas.

O seu trabalho – música, filmes, comentários públicos, decisões – reconheceu as terríveis realidades da existência e utilizou-as como inspiração para algo alegre e transcendente.

Depois de ter lidado com a epilepsia em jovem trabalhou para criar a sua própria realidade – que ignorava quaisquer limites.

O que significa que alcançou coisas extraordinárias: o seu álbum de estreia, For You, com 19 anos; o ignorar de tabus quanto à sua expressão sexual; o liquidar de quaisquer fronteiras entre o rock, o R&B, o funk e a pop; o rebelar-se contra as restrições de um contrato de gravação e convenções de gestão de marca, renomeando-se como símbolo; a construção de Paisley Park, o complexo onde vivia e gravava no Minnesota; e músicas de protesto, concertos surpresa e tweets misteriosos até um mês antes de morrer.

Surgindo a sua morte tão próxima da morte de David Bowie cabe considerar o quão profundamente importantes são os iconoclastas para a evolução da cultura. Mudam o mundo ao tentar mudá-lo ou mudam o mundo através do ato radical de serem eles próprios? Com Prince ficámos com a sensação de que se tratava da última hipótese.

O seu estilo de vida mudou de festeiro para puritano ao longo dos anos mas a sua personalidade e o seu talento para surpreender o público nunca morreram: com uma singularidade única. É impossível não pensar nas palavras de “Let’s Go Crazy”: “We are gathered here today to get through this thing called life.” e “We’re all excited, but we don’t know why / Maybe it’s cause we’re all gonna die.” (“Estamos reunidos aqui hoje para ultrapassar isto a que chamamos vida” e “Estamos entusiasmados e não sabemos porquê / Talvez porque vamos todos morrer”).

O seu recente trabalho – hiperativo, eletrónico, impetuoso – desafiou a maioria das expetativas quanto a como a música de um ícone a envelhecer deve soar. As letras fixam mais do que nunca a passagem do tempo e a ideia de se sentir imortal através das alegrias do sexo e da dança. Ouça a “June”, uma balada recente, para ouvi-lo a filosofar.

É uma alegoria em movimento. Prince sabia que o seu tempo, como o de toda a gente, chegaria antes de estar preparado para o mesmo. Mas o que importa é o que veio antes.

Seguem-se alguns dos melhores exemplos do carisma e musicalidade de Prince – e da sua presença em palco – disponíveis no YouTube.

Rock and Roll Hall of Fame Induction, “While My Guitar Gently Weeps” (2004)

A cerimónia do Rock and Roll Hall of Fame de 2004 iniciou com Prince a cantar “Let’s Go Crazy”, “Kiss” e “Sign o’ the Times” mas foi a sua homenagem a George Harrison que marcou o espetáculo. Tocou “While My Guitar Gently Weeps” juntamente com antigos membros do Traveling Wilburys – Tom Petty e Jeff Lynne – bem como com o filho de Harrison, Dhani. Até ao final da música todos sorriem em sinal de admiração.

Super Bowl XLI Halftime Show (2007)

O desempenho de Prince durante o Super Bowl de 2007 ficará marcado como o maior espetáculo de intervalo de sempre. Embora não seja surpreendente que tenha feito um espetáculo incrível o facto de o ter feito sob chuva torrencial é bastante incrível. As condições eram péssimas. Depois de “Proud Mary”, “All Along the Watchtower” e “Best of You” Prince lançou-se na mais apropriada “Purple Rain”.

Coachella, “Creep” (2008)

Como principal atracão da noite de sábado do Coachella de 2008, Prince tocou uma cover de “Creep” dos Radiohead – o maior hit de rádio da banda. O vídeo tem uma história interessante por detrás, com Thom Yorke a avançar à Associated Press que a cover deveria “viver online”. Atualmente já devem existir mais vídeos de artistas famosos a tocar a “Creep” do que da música a ser tocada pela banda que a gravou originalmente – mas pelo menos um deles foi Prince.

Arsenio Hall Show, “Purple Rain” (1991)

Hall dedicou quase todo um programa a espetáculos de Prince. Apenas o trailer de Purple Rain está disponível no YouTube. Patti LaBelle está tão atordoada que mal consegue ler as suas deixas.

Welcome 2 Tour, Madison Square Garden, "Crazy" (2011)

A maioria dos vídeos de Prince disponíveis online são covers. É o caso deste “Crazy” de Gnarls Barkley com CeeLo Green no Madison Square Garden durante o Welcome 2 World Tour.

Prince tinha um talento especial para pegar em músicas cativantes, interpondo-as com solos de guitarra, e ninguém se atrevia a dizer que a versão original soava melhor.

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