Elizabeth Bernstein, que colabora com o The Wall Street Journal online, escreve sobre a arte de fazer – e manter – amizades quando se é adulto.
Ultimamente tenho ido a vários encontros.
Troquei números de telefone com uma pessoa que estava sentada ao pé de mim durante uma prova de vinhos Cabernet no meu bar de vinhos preferido e fui beber um café com um vizinho que conheci enquanto passeava o meu cão. Entrei em contacto com pessoas do meu passado, que já não via há anos, para ver se de momento estavam disponíveis.
Estou a tentar fazer novos amigos.
Várias investigações mostraram que as pessoas com amizades sólidas têm uma vida mais saudável e longa. A amizade diminui a pressão sanguínea e o stress, reduz o risco de depressão e aumenta a longevidade, em grande parte por termos alguém a olhar por nós.
Um estudo publicado em fevereiro no British Journal of Psychology analisou 15.000 indivíduos e concluiu que as pessoas que tinham mais interações sociais com amigos próximos demonstravam ser mais felizes – a não ser que fossem demasiado inteligentes. As pessoas com Q.I. mais elevado demonstraram ficar menos contentes quando passavam demasiado tempo com amigos. Os psicólogos teorizam que estas pessoas se mantêm estimuladas a nível intelectual sem sentirem necessidade de demasiada interação social.
Assim que entramos na idade adulta o nosso número de amigos começa a diminuir regularmente. As mudanças nas amizades normalmente acontecem devido a transições na vida: cursos, filhos, mudanças de emprego, divórcios ou morte de cônjuges. Um estudo publicado no jornal Evolutionary Behavioral Sciences em 2015 analisou 540 homens e mulheres e demonstrou que perdemos uma média de dois amigos quando ganhamos um parceiro romântico.
“Estamos constantemente a perder amigos”, diz Irene S. Levine, professora de Psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque e autora de “Best Friends Forever: Surviving a Breakup with Your Best Friend” (que em português seria algo como “Melhores Amigos Para Sempre: Como Sobreviver ao Fim da Amizade com o seu Melhor Amigo”).
“Começamos a ir por um lado, os nossos amigos por outro e deixamos de ter coisas em comum.”
No entanto, à medida que envelhecemos torna-se mais difícil fazer amigos. Temos menos tempo para fazer amizades. Fica mais difícil encontrar pessoas com interesses e estilos emocionais parecidos quando já não se tem uma lista de colegas de escola de onde escolher. A escola também proporciona uma rotina estável para que as pessoas possam desenvolver intimidade de forma mais lenta e natural.
“Se sentir uma química com outra pessoa, apresente-se” afirma Tara Massan, professora de violino de Blaine, Minnesota. FOTOGRAFIA: JAKE BLUE
Também começamos a ficar mais inibidos. A maioria das crianças não tem problemas em ir ter com outra criança no recreio e perguntar se podem ser amigos. Imagine fazer isso no Starbucks.
Assim sendo, como é que pode fazer amigos agora? Levine diz que o primeiro passo passa por ultrapassar o estigma de que se não tem amigos suficientes ou está a tentar fazer mais é porque alguma coisa se passa consigo. “Quando somos adultos, pensamos que toda a gente já tem os seus amigos e que somos os únicos que andamos à procura deles”, refere. “Não podíamos estar mais longe da verdade.” As mulheres sentem-se especialmente julgadas se não tiverem amigos, continua ela, já que é suposto serem boas a fazer amizades.
Pode ser ainda mais difícil para os homens fazer amigos. As mulheres sentem-se mais confortáveis em ir ter com outras pessoas, diz Geoffrey Greif, professor da Escola de Ação Social da Universidade de Maryland e autor do livro “Buddy System: Understanding Male Friendships” (que em português ficaria algo como “Sistema de Amigos: Compreender as Amizades Masculinas”). Greif afirma que os homens receiam muitas vezes que aproximar-se de outro homem possa ser mal-interpretado como uma aproximação de cariz sexual. E no geral, “os homens são os que estão menos dispostos a ficar vulneráveis”, refere.
Se quer fazer novos amigos tem de procurar com intenção. E tal como faria para encontrar um novo(a) companheiro(a), tem de procurar alguém que tenha algo em comum consigo e que esteja emocionalmente disponível.
Tara Massan fez amigos ao meter conversa com um colega voluntário no banco de alimentos que frequentava o seu café todos os dias à mesma hora – e ao ficar nas aulas de ginástica sempre ao pé da mesma mulher cujas competências atléticas admirava.
Há uns anos atrás, enquanto trabalhava como assistente de advogados, reparou que uma colega de trabalho levava ténis todos os dias para o trabalho. Massan mencionou que também era corredora e pediu-lhe dicas para uma corrida de 10 km que se estava a aproximar. Pouco tempo depois, as duas começaram a falar todos os dias sobre corrida e a mulher acabou por convidar Massan a juntar-se ao seu grupo de corrida. Agora, o novo grupo de amigos reúne-se todas as semanas para correr ou pôr a conversa em dia.
“Se sentir uma química com outra pessoa, apresente-se”, diz a professora de violino de 33 anos proveniente de Blaine, no Minnesota. “Nunca se sabe que tipo de amizade vai brotar daí.”
Ao procurar novos amigos não espere muita coisa demasiado cedo. Comece por fazer conhecidos. A estes costumo chamar “amigos caloiros”. Nunca se sabe quando algum deles se vai tornar num amigo próximo.
Procure mais amplamente. Quando expande os seus horizontes multiplica as suas opções.
Partilhe algo emocional sobre si. “É como numa dança”, afirma Levine. “Partilha algo e dá a oportunidade à outra pessoa de partilhar algo seu”, diz. “Deve funcionar como uma revelação mútua de informação sobre ambos.”
Siga os seus interesses. Envolva-se em grupos ou atividades de voluntariado de que goste. Irá conhecer pessoas com as mesmas opiniões – e tornar-se mais interessante. Vá ao Meetup.com, um site onde as pessoas criam grupos dedicados a atividades ou interesses específicos e em que esperam conhecer novas pessoas.
Seja constante. A participação regular em atividades irá naturalmente levar a que com tempo conheça alguém. “É difícil chegar ao próximo nível se não vir a pessoa regularmente”, diz Carlin Flora, autora do livro “Friendfluence: The Surprising Ways Friends Make Us Who We Are” (que em português ficaria algo semelhante a “Amifluência: as Formas Surpreendentes de Como os Amigos Nos Tornam Naquilo Que Somos”).
Pondere reavivar uma amizade antiga. As circunstâncias das pessoas mudam e alguém que em tempos estava muito ocupado(a) pode de momento ter mais disponibilidade.
Seja amigo(a) quando alguém precisa. Ofereça sopa quando um vizinho está doente ou convide um(a) colega que esteja stressado para ir beber um café.
Fiz amigos ao conversar com estranhos no avião, a voluntariar-me para um serviço de caridade que ajuda veteranos e ao participar em corridas de barcos nas tardes de quarta-feira.
Há pouco tempo apercebi-me de que não tinha amigas suficientes em Miami, cidade para onde me mudei há alguns anos. Um conhecido meu falou-me de um grupo no Facebook chamado Scuba Girls, um grupo para mulheres que gostam de mergulho, que também é uma das minhas paixões. Publiquei uma mensagem no grupo a apresentar-me e a dizer que andava à procura de novas amizades. Passados 15 minutos já tinha 11 respostas. Três eram de mulheres que já conhecia a dizerem-me olá.
Fiz planos para me encontrar com algumas das mulheres que não conhecia. Todas elas eram interessantes e divertidas e tenho a certeza de que vou acabar por ir praticar mergulho com elas.
Mas uma delas era diferente. Começámos por nos fixar no nosso cabelo encaracolado assim que nos vimos. Depois ficámos a falar – durante três horas – sobre os nossos trabalhos, os nossos livros preferidos, relações e da Região Centro-Oeste (Midwest), onde ambas crescemos. A meio do caminho informei-a de que estava num encontro de amigas.
“Eu sei!”, respondeu ela. “Está a correr bem, não achas?”