A opinião de Darius Foroux, que investiga sobre como superar a procrastinação, melhorar a produtividade e alcançar mais
Durante grande parte da minha vida acreditei que a vida só tinha um propósito: ser feliz.
É, não é? Para quê sofrer e enfrentar dificuldades senão por isso? Para alcançar a felicidade. E não sou o único a acreditar nisso. De fato, se olhar com atenção à sua volta, a maioria das pessoas está tentando ser feliz.
É por isso que coletivamente compramos produtos de que não precisamos, dormimos com gente que não nos diz nada e tentamos a todo o custo ser reconhecidos por pessoas de quem não gostamos.
Por que é que fazemos isto tudo? Para ser sincero, não me interessa a razão exata. Não sou um investigador. O que sei é que tem qualquer coisa a ver com história, cultura, media, economia, psicologia, política, a era da informação, etc. A lista é interminável.
Somos o que somos
Aceitemos isso. A maior parte das pessoas adora analisar por que é que os outros não são felizes ou não se sentem realizados. A mim não me interessa necessariamente o porquê.
A mim interessa-me como é que podemos mudar.
Há bem poucos anos, fazia tudo o que podia para encontrar a felicidade.
- Compramos coisas, e achamos que vamos ser felizes.
- Nos envolvemos com alguém, e achamos que vamos ser felizes.
- Temos um emprego de que não gostamos mas paga bem, e achamos que vamos ser felizes.
- Vamos de férias, e achamos que vamos ser felizes.
Mas quando o dia acaba, está deitado na cama (sozinho ou com o parceiro/a), e pensa: E depois?
O que é que se segue na eterna busca de felicidade?
Eis o que se segue: você correndo atrás de uma coisa qualquer que acha que o faz feliz.
É tudo fachada. Um embuste. Uma história inventada.
Será que Aristóteles nos mentiu quando disse:
“A felicidade é o significado e propósito da vida, o objetivo último do ser humano”.
É preciso pensar nisto de forma diferente. Porque quando lemos, pensamos que a felicidade é o objetivo principal. Também é isso que a citação parece dizer.
Eis o senão: Como é que se alcança a felicidade?
A felicidade não pode ser um fim em si. Logo, não é algo que se possa alcançar.
Acredito que a felicidade é um produto da utilidade.
Quando tento explicar esta ideia a amigos, família e colegas, tenho sempre dificuldade em pô-la em palavras. Mas vou tentar aqui.
A maior parte das coisas que fazemos são meras atividades e experiências.
- Vamos de férias.
- Trabalhamos.
- Vamos às compras.
- Tomamos um copo.
- Jantamos.
- Compramos um carro novo.
Estas coisas deveriam nos fazer felizes, certo? Mas não são úteis. Não estamos criando nada. Estamos simplesmente consumindo ou usando qualquer coisa. E isso é ótimo.
Não me interprete mal. Adoro ir de férias, ou ir às compras às vezes. Mas para ser sincero, não é isso que atribui significado à vida.
O que me faz mesmo feliz é ser útil. Quando crio qualquer coisa que outros possam usar. Ou quando crio qualquer coisa que eu possa usar.
Costumava achar difícil explicar esta ideia de utilidade e felicidade. Foi quando descobri uma frase de Ralph Waldo Emerson que as peças começaram a encaixar.
Emerson diz:
“O propósito da vida não é ser feliz. É ser útil, honrado, bom, fazer a diferença para mostrar que vivemos e que vivemos bem”.
Não percebi isso até me ter tornado mais consciente daquilo que estava fazendo da minha vida.
Parece profundo e sério demais, quando na realidade é muito simples.
Em suma é isto:
Como é que está FAZENDO a diferença?
Que coisas úteis fez até agora? Não precisa mudar o mundo nem algo do gênero. Só precisa o tornar um pouquinho melhor por cá ter passado.
Se não sabe como, aqui ficam algumas ideias.
- Ajude o seu chefe com algo que não seja da sua responsabilidade.
- Leve a sua mãe ao spa.
- Faça uma montagem de fotografias (não digital) para oferecer à cara-metade.
- Escreva um artigo sobre aquilo que aprendeu na vida.
- Ajude uma mãe grávida, com um filho de 2 anos, com o carrinho.
- Telefone a um amigo e pergunte se pode ajudar de alguma forma.
- Monte uma daquelas secretárias de pé.
- Abra um empresa, contrate alguém e trate bem essa pessoa.
Estas são apenas algumas das coisas que eu gosto de fazer. Está à vontade para decidir quais as suas.
Está vendo? Não é nada de especial. Mas quando se tem pequenos gestos úteis todos os dias, somando tudo tem-se uma vida bem vivida. Uma vida que fez a diferença.
A última coisa que quero é estar próximo do último suspiro e chegar à conclusão que não há prova nenhuma de que existi. Li recentemente Not Fade Away: A Short Life Well Lived (Sem desaparecer: Uma curta vida bem vivida) de Laurence Shames e Peter Barton.
Trata-se da história de Peter Barton, o fundador da Liberty Media, e onde este partilha confidências sobre o que é estar morrendo de câncer.
É um livro impressionante que o vai comover de certeza. Conta como Barton viveu e como descobriu a sua paixão. O autor estudou gestão e deixou uma nota sobre os colegas de curso do MBA:
“No fundo era um grupo de pessoas extremamente inteligentes, que jamais fariam grande coisa, jamais acrescentariam algo à sociedade e que não deixariam legado nenhum. Achei este facto muito triste, tal e qual como ver potencial desperdiçado é algo triste”.
O mesmo se aplica a todos nós. Depois de ter percebido isto aos 30, fundou a empresa que o tornou multimilionário.
Outra pessoa que faz por ser útil é Casey Neistat. Há um ano e meio que o sigo de perto e de cada vez que vejo os seus vídeos no YouTube, está fazendo algo de diferente.
Neistat também fala de como quer fazer mais e criar algo. Tem inclusivamente uma tatuagem no braço onde se lê “Faz mais”.
A maioria perguntaria “Por que trabalhar mais?” e depois ligam o Netflix e veem a série Daredevil toda.
Formas de estar diferentes
Ser útil é uma forma de estar. E como qualquer forma de estar, começa com uma decisão. Um dia acordei e pensei: O que é que estou fazendo aqui? E a resposta foi “nada”.
Nesse dia comecei a escrever. No seu caso pode ser pintar, criar um produto, ajudar um idoso, o que lhe apetecer.
Não se leve demasiado a sério. Limite-se a FAZER algo que seja útil. Uma coisa qualquer.