Albert R. Hunt, que colabora com o bloomberg.com, analisa a possibilidade de Trump e Clinton levarem a cabo promessas de campanha
Alguns republicanos racionalizam as propostas de Donald Trump quanto à imigração e ao comércio como apenas show político. Da mesma forma, alguns democratas pelo comércio livre sugerem que a postura protecionista de Hillary Clinton é meramente retórica.
Estão iludidos. A investigação académica e a história recente mostram que os recém-eleitos presidentes têm procurado manter-se fiéis aos seus compromissos de campanha.
De acordo com Shirley Anne Warshaw, investigadora das presidenciais no Gettysburg College:
“Os novos presidentes realmente acreditam que têm um mandato, sentem-se empoderados. (...) Não há razão para pensar que será diferente desta vez.”
Assim, os políticos e os eleitores devem assumir que um presidente Trump irá deportar milhões de imigrantes irregulares e construir um muro ao longo da fronteira com o México, ameaçar a China com uma guerra comercial, reverter regulamentos relativos a Wall Street e ao ambiente e fazer parcerias com Vladimir Putin.
O pressuposto deve ser que uma presidente Clinton aumente os impostos sobre os mais ricos, dê início a uma infinidade de novos programas sociais muito aquém do defendido por Bernie Sanders e frustre o proposto acordo comercial Parceria Transpacífico.
Houve algum ceticismo quanto à possibilidade de candidatos como Ronald Reagan e George W. Bush assumirem as suas propostas de significativos cortes nos impostos. Assumiram. Ou quanto à possibilidade de Barack Obama reformar o sistema de saúde. Foi o que fez.
Por vezes os presidentes seguem compromissos de campanha que são politicamente arriscados. O presidente Bill Clinton cumpriu a sua promessa quanto à eliminação da proibição de gays nas forças armadas, que na altura não era popular. E alguns presidentes tiveram de ser arrastados para quebrar uma promessa: George H. W. Bush levou quase dois anos a abandonar o seu compromisso quanto à não imposição de novos impostos. O acordo quanto ao orçamento em 1990 teve dois efeitos: inaugurou os bons tempos económicos dos anos 90 e custou a vida política de Bush.
Trump, que protestou contra os políticos que não mantêm as suas promessas, poderá começar por deportar 11 milhões de trabalhadores irregulares. Afirmou que o fará ao longo de dois anos sem especificar como iria cobrir os custos astronómicos. Também começará por tentar iniciar a construção do muro ao longo da fronteira sul dos EUA, que custará muito mais do que estima – e não será capaz de obrigar o México a pagar pelo mesmo.
Quanto ao comércio, as leis nacionais e internacionais irão limitar a sua capacidade para cumprir a promessa de impor significativas tarifas sobre produtos chineses ou mexicanos. Poderá tentar contornar as restrições invocando poderes presidenciais em resposta a uma “ameaça incomum e extraordinária.”
Sob uma administração Trump, os regulamentos quanto a Wall Street e ao Ambiente serão revertidos: poderá apoiar reguladores defensores da indústria e obter algumas alterações legislativas.
A política externa de Trump não é clara para a maioria – e o mesmo parece ter dado pouca atenção ao assunto com os seus pronunciamentos a mostrarem-se tendencialmente genéricos: os outros países precisam de assumir o fardo da sua própria defesa.
Existem alguns pontos de vista pouco convencionais: já falou da sua admiração por Putin e não parece ser tímido para assumir uma ação militar contra uma ameaça “percebida”.
Quanto a Clinton, alguns apoiantes de Wall Street avançam que as suas propostas e retórica mais dura quanto aos bancos são apenas uma resposta política a Sanders, o seu rival democrata. Não aposte nisso – aposte que Clinton irá fazer tudo para aumentar os impostos sobre os mais ricos.
Quanto ao comércio, circula a opinião entre alguns dos seus apoiantes políticos e empresariais de que é realmente uma defensora do comércio livre e que a sua oposição ao pacto de comércio no Pacífico, de Obama, e a sua promessa de negociar o North American Free Trade Agreement são apenas gestos políticos. Avançam que na realidade não irá recuar e que o TPP estará morto se não for promulgado depois da eleição deste ano.
Trump carece de uma data de detalhes políticos mas tanto o mesmo como Clinton estabeleceram um roteiro do que pretendem para o país. Os eleitores devem levá-los a sério.