Marco Bello/File Photo/Reuters
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O drama da presidência de Maduro deverá terminar em tragédia

Maduro chegou ao poder em 2013 e afirmou ter debatido com o fantasma de Hugo Chávez, insistindo que o cancro que matou o seu antecessor – a quem chama “pai” – foi um caso de assassinato da CIA.

Injuriado pelos seus subordinados e cada vez mais isolado, anda pelo palco presidencial a declamar solilóquios desafiantes contra os seus inimigos, nos bastidores.

Enquanto isso a Venezuela vai entrando em colapso. O Fundo Monetário Internacional prevê uma contração económica de 8% em 2016; a taxa de inflação é a mais rápida do mundo; a eletricidade e a água corrente são luxos; e os alimentos e os medicamentos escasseiam. Os anémicos preços do petróleo e a pesada dívida deixam escassas divisas estrangeiras para o setor da importação.

Maduro não está disposto a rever as políticas fiscais e monetárias que herdou do seu mentor ou a aceitar ajuda de fora. Está a tornar-se mais difícil dizer se está apenas agarrado ao poder a qualquer custo ou se pretende arruinar ativamente o seu país.

Tendo declarado estado de emergência, Maduro visitou ilhas vizinhas.

Além de procurar fundos procurou também fortalecer votos amigáveis na Organização dos Estados Americanos, que na terça-feira passada começou a tomar medidas contra a Venezuela para defender a democracia na região, uma rara repreensão normalmente reservada para países alvo de crises e golpes.

A viagem mostrou o quão isolado o herdeiro revolucionário de Chávez está. Com a suspensão de Dilma Rousseff da presidência do Brasil, Maduro perdeu o seu último aliado regional com poder. Longe vão os dias em que cada líder sul-americano era de esquerda e populista.

Que Maduro, à semelhança de Rousseff, não irá terminar o seu mandato de seis anos parece incontestável. A propensão regional para ciclos económicos de expansão e recessão e revoltas populares mostra que a maioria das constituições latinas incluem válvulas de escape que funcionam como votos de não confiança – e a oposição já deu início a um processo.

No entanto, em contraste com o Brasil, as instituições da Venezuela não têm a independência e os incentivos para tais processos constitucionais seguirem caminho. De uma forma que faz lembrar um reality show, a Constituição determina que se o presidente se mantiver até 10 de janeiro do ano seguinte pode, com efeito, nomear o seu sucessor em vez de realizar eleições antecipadas em que irá certamente perder.

Uma vez que um governo da oposição iria investigar e processar a corrupção da era revolucionária, os burocratas e juízes do chavismo estão a trabalhar em sintonia para bloquear o processo até essa data – para protegerem a própria impunidade, tal como a de Maduro.

Se forem bem sucedidos, o partido poderá ser capaz de comprar mais dois anos, sacrificando a figura na proa. No entanto, ao investir nessa linha ténue – provocando destabilização suficiente para justificar atrasos no processo mas não a suficiente para provocar as massas ou os militares para uma derrubada definitiva – o regime está a jogar um jogo perigoso. A maioria dos venezuelanos quer que Maduro renuncie e a agitação popular não mostra sinal de abrandamento. O palco está montado para convulsão social sem precedentes.

Ciente da situação Henrique Capriles, antigo candidato presidencial da oposição, avançou aos militares:

“A hora da verdade está a chegar – para decidirem se estão com a Constituição ou com Maduro.”

Capriles irá, sem dúvida, encontrar quem o ouça nas forças armadas opacas – no entanto, muitos têm tanta razão para temer o fim da impunidade revolucionária como os burocratas. A tragédia da Venezuela, agora no seu ato final, já vai longa e parece provável que termine com violência.

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