Só no último fim de semana 123.000 venezuelanos atravessaram a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia em busca de bens essenciais
Pela segunda vez em duas semanas, milhares de venezuelanos “invadiram” a Colômbia a partir da sua fronteira ocidental à procura de bens essenciais como alimentos e medicamentos – que estão praticamente esgotados na Venezuela.
A fronteira tem estado fechada desde agosto do ano passado. No entanto, foi reaberta nos dois últimos fins de semana. Relatórios indicam que no último fim de semana cerca de 123.000 pessoas atravessaram a fronteira.
A abertura da semana passada foi incitada por um protesto que ocorreu uns dias antes, levado a cabo por centenas de mulheres vestidas de branco que atravessaram uma ponte que liga o estado de Táchira na parte ocidental da Venezuela (uma das regiões mais agravadas pela crise da Venezuela) a Cúcuta, uma cidade colombiana com cerca de 600.000 habitantes.
Segundo o governador do estado de Táchira, Jose Vielma Mora, o presidente da Venezuela Nicolas Maduro autorizou a abertura “pois queremos manter uma fronteira pacífica, com reciprocidade por parte da Colômbia, onde o contrabando e a entrada de alimentos da Venezuela não são permitidos”, referindo-se à atividade de contrabando que tem vindo a crescer na fronteira.
Os oficiais colombianos parecem receber bem o influxo de venezuelanos, com as autoridades no terreno a apelidarem-no de “corredor humanitário”.
Nos dois últimos fins de semana, o número de venezuelanos que se alinhou junto à fronteira aquando da sua abertura – por parte do governo socialista depois de um encerramento de quase um ano – chegou aos milhares.
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No último fim de semana, o número chegou aos 35.000 no sábado, seguido de mais 88.000 no domingo.
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Alguns colombianos arriscaram-se a entrar na Venezuela para, alegadamente, adquirir bens mais baratos – como gasolina, cujo preço é mantido extremamente baixo por subsídios do governo.
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A procura de bens essenciais por parte dos venezuelanos, como farinha e açúcar, foi tão grande que a cidade teve que ser reabastecida desses mesmos bens por cidades colombianas vizinhas.
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A abertura da fronteira no sábado, que durou oito horas, foi uma surpresa uma vez que a mesma estava marcada para domingo. As autoridades colombianas afirmaram que “fizeram um enorme esforço para ter fornecimento suficiente de bens” – no entanto, a procura excedeu o que havia disponível.
O papel higiénico, em particular, foi um dos bens mais procurados.
Tendo em conta que não se verificava a abertura da fronteira desde agosto do ano passado, e uma vez que existe um número significativo de população venezuelana e colombiana entre os dois países, a travessia foi também aproveitada para resolver assuntos para além do reabastecimento de alimentos.
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“Tem sido uma loucura”, contou à AP Alejandro Chacon, proprietário de uma loja de hardware na cidade vizinha de San Cristobal que atravessou a fronteira pela primeira vez desde o seu encerramento. “É estranho ver isto, mas sabemos que vamos encontrar o que queremos na Colômbia, por isso é uma diferença boa.”
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“Quiosques à beira da estrada receberam pagamentos pelos bens em moeda venezuelana e fizeram descontos muito maiores do que os que são aplicados a esses bens vendidos no mercado negro na Venezuela”, relatou a AP.
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A queda dos preços do petróleo a nível global, produto com o qual a Venezuela obtém grande parte do rendimento estrangeiro, dificultou a capacidade do país para realizar importações. O défice resultante, junto com rígidos controles nos preços aplicados a alguns bens, criou escassez galopante.
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Por sua vez, essa escassez contribuiu para o aumento da inflação no país, que levou os preços dos produtos (que ainda se encontram nas prateleiras dos supermercados) a níveis exorbitantes. Contudo, na Colômbia existe maior disponibilidade dos produtos procurados pelos venezuelanos.
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Ao contrário do que encontraram na Colômbia, em casa os venezuelanos deparam-se na maioria das vezes com prateleiras como estas – em Caracas.
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“Cúcuta abre-lhe as portas. Seja bem-vindo a nossa casa”, diz este sinal, que indica os preços dos bens (convertidos de uma taxa de 2,50 pesos colombianos para 1 bolívar venezuelano).
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As autoridades colombianos deram as boas-vindas aos que chegavam sozinhos e a polícia distribuiu bolos e pôs a tocar vallenato, uma música tradicional muito apreciada por ambas as partes da fronteira.
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“Papel higiénico, arroz, farinha, pasta de dentes, óleo alimentar”, contou o que ia levar para a Venezuela Pedro Galaschow, de 36 anos, ao The Wall Street Journal. “É humilhante o que estão fazendo no nosso país.”
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A escassez completa de bens alimentares essenciais e de outros tipos de bens reduziu drasticamente a qualidade de vida dos venezuelanos. Algumas famílias consomem apenas uma ou duas refeições insuficientes por dia. Outros exemplos mais graves são o caso de doentes e pessoas internadas em hospitais sem acesso a medicamentos vitais.
“De momento não há fome na Venezuela”, escreveu o professor David Smilde da Universidade de Tulane a viver em Caracas. “No entanto, existe uma subnutrição significativa que pode evoluir para fome se não se verificarem mudanças.”
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No “Carnaval de San Antonio encontram-se aqui anualmente milhares de pessoas. No entanto, nunca se viu uma multidão como esta”, disse no Twitter um repórter venezuelano presente na travessia.
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As travessias foram feitas de uma forma relativamente ordeira, sem a presença dos confrontos e protestos que têm caracterizado a vida diária na Venezuela nos últimos meses. No entanto, as condições atuais nunca estiveram longe da mente de muitos.
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“Venho comprar comida para os meus filhos e netos”, contou ao The Journal Nersa Delgado, de 62 anos, enquanto levava em uma mão rolos de papel higiénico e um saco com comida na outra. “É horrível chegar aos 62 anos e ter que viver assim.”
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Alguns venezuelanos entoaram _slogans_ enquanto atravessavam a fronteira. Outros cantaram o hino nacional num tributo um pouco sarcástico ao seu governo, apenas algumas semanas após o país ter celebrado o aniversário da sua independência da Espanha.
“É triste ter que se fazer isso mas também sabemos que do outro lado vamos encontrar alguma coisa,” disse à Associated Press Rosa Cardenas, uma professora reformada de 70 anos acompanhada pela sua neta de 5 meses.
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