A Google é um dos principais investidores da Uber. Porém pode estar prestes a tornar-se um concorrente. Não um concorrente convencional – um concorrente com carros automáticos.
Peter Thiel, o perito em empresas de tecnologia, tem uma forma engraçada de definir monopólio – “o tipo de empresa que é tão boa no que faz que nenhuma outra empresa consegue oferecer uma substituição próxima.” Embora não seja um conselho particularmente útil para consumidores, é bom para empreendedores. Lute pelo poder de monopólio, diz. Caso contrário, a concorrência irá escoar os seus lucros.
A Google é um monopólio, tal como a Microsoft foi em tempos, diz Thiel. Agora encaramos a questão: a Uber também é?
Já argumentei antes que a plataforma que oferece um serviço semelhante ao do táxi tradicional desenvolveu como seu principal produto um serviço que qualquer um pode oferecer: é por isso que a Uber tem que ser tão agressiva a oferecer tarifas mais baixas que os seus concorrentes garantindo, em simultâneo, os salários dos motoristas – movimentos que pressionam as suas margens de lucro, tal como se preocupa Thiel. A tecnologia por detrás da combinação de clientes com smartphones e carros não é assim tão difícil de implementar em escala – pelo menos, não é suficientemente difícil para manter a concorrência longe.
Claro que não se pretende subestimar os sucessos da Uber ou a força da sua rede: tal como o Facebook no mundo das redes sociais, a Uber surge como plataforma dominante, em parte pela dinâmica que já tem – os utilizadores mais regulares, maior número de carros e maior visibilidade da marca. A sua estratégia tem sido manter a vantagem inicial para assegurar uma posição dominante no mercado. E até agora tem conseguido, mesmo que todas as guerras com questões de regulamentação aumentem o seu burn rate.
Mas nesse momento entra em jogo o Google
Contudo agora poderá ter que enfrentar um desafio ainda maior: a Bloomberg reportou que a Google, que investe na Uber, se encontra a desenvolver a sua própria app para partilha de carros – concebida para tirar vantagem da tecnologia de condução automática de carros desenvolvida pela empresa – e já avançou o suficiente, considerando que o advogado de topo da empresa está a ponderar deixar o Conselho de Administração da Uber.
Enquanto um tweet enigmático e um artigo do Wall Street Journal lançam dúvidas quanto à prontidão da Google para lançar um concorrente da Uber, provavelmente não é coincidência que a Uber esteja a falir e a contratar um laboratório inteiro de engenheiros e cientistas da Carnegie Mellon para desenvolver os seus próprios carros automáticos.
O CEO da Uber, Travis Kalanick, já mencionou a possibilidade de colocação de carros automáticos na plataforma Uber – contudo, voltou atrás nesses comentários face às criticas dos seus atuais condutores humanos, de quem ainda precisa para manter o seu negócio à tona até chegar à utopia dos carros sem condutor. No entanto, mesmo a Google está a anos de distância de ter carros robot, legais, nas ruas – pois nomeadamente não lidam totalmente bem com condições climáticas adversas.
Entretanto, no entanto, não existe nenhuma razão para a Google não lançar a Google Cars e começar a construir a sua própria rede. Tem certamente o capital e conhecimentos técnicos para o fazer – e com tantos utilizadores da Google no mundo, tem um mercado à sua espera.
No entanto, talvez os executivos da Google tenham percebido que, seguindo a lógica de Peter Thiel, um serviço semelhante ao do táxi tradicional não é assim tão rentável por ser muito competitivo. Talvez a Google e a Uber sintam, da mesma forma, que a melhor forma de proteger as margens de lucro fluidas é deixar o serviço de disponibilização de carros com motorista por completo e fazer carros automáticos – um produto verdadeiramente difícil de substituir – mesmo que colocar uma frota na estrada corresponda a um massivo investimento de capital. Uma lástima para os pobres motoristas.