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Há um ano atrás, a compra da WhatsApp por $19 mil milhões pareceu a muita gente um exagero. Especialmente tendo em conta o modelo de negócio da aplicação. Mas hoje a medida tomada pelo Facebook faz muito mais sentido.

As mensagens são o ponto forte dos dispositivos móveis. O valor do Snapchat subiu até aos $20 mil milhões. E ninguém quer saber de quem são as aplicações.

No dia 19 de fevereiro de 2014 não se tinha certeza de nenhuma destas coisas. Por isso, quando o Facebook anunciou que ia pagar $19 mil milhões para adquirir o WhatsApp – uma aplicação que a maioria dos eruditos americanos nunca utilizou – pareceu absurdo. O Zuck só podia estar louco, certo?

Errado. Sem o WhatsApp, a situação internacional do Facebook pareceria muito mais imprevisível. E se fosse antes um concorrente como a Google a adquiri-la, poderia ser um desastre.

Assim, o Facebook possui a aplicação de mensagens mais popular e neutralizou a maior ameaça ao seu domínio mundial das redes sociais.

O chat é o Portal Móvel

Não existe mais nenhum tipo de aplicações que é aberto mais vezes por dia do que o de mensagens. Apesar de se poder passar mais tempo a percorrer o Facebook, o Instagram ou o Pinterest, as breves sessões frequentes nas aplicações de chat fazem delas uma espécie de vetor para outras experiências. O que significa que estas aplicações podem ser muito mais valiosas do que podem parecer à primeira vista.

Como se rentabiliza um chat? Essa é uma boa pergunta. É verdade que existem os preços de origem, mas a concorrência é demasiada para cobrar tanto em adiantado por uma aplicação, e colocar publicidade é muito incomodativo. Contudo, existem muitas oportunidades para as plataformas, concentradores, portais – seja o que for que lhes queira chamar – lucrarem.

Na Ásia, há aplicações de mensagens a provar isso mesmo enquanto lê este texto. A WeChat chinesa até lhe permite chamar um táxi, pagar aos seus amigos, pesquisar, fazer compras, comprar bilhetes de cinema e muito mais. A Line japonesa inclui as opções Line Pay e Line TV e uma plataforma de identidade para jogar jogos. Porquê atrapalhar-se com uma quantidade infindável de aplicações, palavras-passe e métodos de pagamento quando pode ter tudo isso enquanto conversa com alguém?

Até o Snapchat está a evoluir mais para além das mensagens. O seu produto Stories para transmissão de sequências de fotos e vídeos é um sucesso com criadores de conteúdos de qualidade. A funcionalidade Snapcash permite-lhe pagar mais rapidamente aos amigos através do Square Cash. E o seu novo portal Discover reúne conteúdos compatíveis com o Snap de produtores de excelência como a Comedy Central, a CNN, a ESPN e a Vice.

Muitos críticos perguntam-se como é que o Facebook consegue obter lucro com uma plataforma de mensagens como a WhasApp, tendo em conta o seu compromisso de não colocar publicidade e de cobrar nalguns mercados apenas uns míseros $1 pela taxa de subscrição. A resposta a isso é que ele não precisa. Ao ficar com parte do comércio, ou ao cobrar pela promoção do conteúdo, consegue manter o chat limpo e livre dessas coisas, pois obtém lucro com outras partes.

Perdeu a sua oportunidade com o Snapchat

É conhecida a tentativa do Facebook de levar para casa o Snapchat por um valor perto dos $3 mil milhões. Contudo, em retrospetiva, constata-se que foi um golpe baixo pouco feliz do Facebook. O Snapchat rejeitou a proposta, e todas as tentativas do Facebook de criar clones dele têm revelado ser autênticos falhanços.

Evan Spiegel, CEO do Snapchat

Atualmente, o Snapchat está a tentar conseguir $500 milhões com uma valorização de $20 mil milhões. A funcionalidade Stories tornou-se uma rival da News Feed do Facebook. E se o Discover se tornar mais popular, tem todo o potencial para dar lucro. O Snapchat é constantemente citado como a rede social para onde os adolescentes se esquivam da rede social dos pais.

O Snapchat tornou-se uma das muitas pedras no sapato do Facebook, e imagino que este não estivesse disposto a deixar isso acontecer outra vez num futuro próximo. Por isso, em vez de tentar pagar o que a WhatsApp valia há um ano atrás, remodelou-a de maneira a pagar o que ela poderia valer um dia.

As empresas-mãe não interessam

Sempre que um gigante da tecnologia compra uma startup popular, há sempre revolta por parte dos utilizadores e uma preocupação por parte dos compradores que estes possam desertar. Todavia, tem-se visto sistematicamente que se se deixar uma startup ser um pouco independente e como tem funcionado até aquele momento mas com mais recursos, os fãs mantêm-se leais.

Na altura em que o Facebook comprou o Instagram por mil milhões de dólares, a rede social tinha cerca de 30 milhões de utilizadores. Hoje em dia tem mais de 300 milhões de utilizadores e a Citigroup atribui-lhe um valor de $35 mil milhões.

Alguns apoiantes do Kickstarter e alguns programadores iniciantes amuaram quando o Facebook adquiriu a Oculus. Mas desde então que plataforma se desenvolveu, tornando-se no polo de realidade virtual de excelência. O seu CEO Brendan Iribe disse-me que a aquisição ajudou a estimular a confiança para grandes desenvolvimentos pois sabiam que a Oculus não ficaria falida e não teria de fechar.

A empresa programadora de plataformas Parse, desde a altura em que foi comprada pelo Facebook que viu aumentar o seu número de aplicações de 60.000 para mais de 500.000. A Flurry cresceu com a Yahoo. A propriedade do Twitter não impediu o pessoal da Vine.

O facto de o Facebook comprar a WhatsApp não iria arruiná-la, e não o fez. O seu número de utilizadores mensais continuou a crescer dos 450 milhões do ano passado para os 700 milhões do mês passado.

A alternativa assustadora

Mais arriscado do que o Facebook comprar a WhatsApp seria se outra empresa concorrente o fizesse.

A mais óbvia, a Google, poderia ter utilizado a WhatsApp para iniciar os seus programas de Messenger desatualizados. De repente, o Facebook estaria a travar uma batalha com um rival com recursos financeiros para substituir as SMS pela forma como o mundo utiliza o chat hoje em dia.

Sem ela, a Google parece ter desistido da guerra das mensagens. Uma vez que a WhatsApp funciona de uma forma independente, o Facebook tem podido concentrar-se na sua própria aplicação de mensagens no seu mercado nacional, que já conseguiu 500 milhões de utilizadores.

A WhatsApp atingiu uma popularidade estrondosa no mundo em desenvolvimento, onde as taxas das SMS são difíceis de aceitar. Isso acontece porque a renda discricionária é cada vez menos comum, o que também faz com que rentabilizar com esses utilizadores com publicidade seja difícil. Esse é um problema para o Facebook que a WhatsApp pode ajudar a resolver. Através do método de pagamentos móveis que se expandiu para locais como África, a WhatsApp pode rentabilizar em locais onde para a sua empresa-mãe é difícil.

E quer tenha permanecido independente ou vendida a outra empresa, a WhatsApp podia ter desafiado a mão de ferro do Facebook na questão do domínio das redes sociais. Ela não é só mensagens. A WhatsApp oferece uma funcionalidade de atualização do estado semelhante à do Messenger instantâneo AOL. Mas se se desviar disso, esses estados são muito parecidos com aquilo que as pessoas publicam no feed do Facebook.

Tendo em conta que a funcionalidade principal dos dispositivos móveis são as mensagens, a WhatsApp podia ter seguido o caminho para se tornar numa rede social plena a partir dos estados.

Nunca vamos saber isso ao certo até que a WhatsApp comece a originar um lucro considerável. Mas na era da ligação à Web a partir do ambiente de trabalho remoto, o AOL e a Yahoo cresceram imenso a partir do seu uso frequente para se tornarem nos portais para tudo. As aplicações de mensagens são os portais para os dispositivos móveis, e o Facebook possui o maior de todos.

Isto é qualquer coisa menos uma loucura.

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