A robótica tem sido utilizada principalmente nas áreas da medicina, segurança e indústria fabril, mas estão finalmente a ser desenvolvidos robots para o consumidor comum. Esses desenvolvimentos estão a atrair o investimento de inúmeros fundos de capital de risco.
Se a representação de inteligência artificial de Hollywood fosse precisa, por agora já estaríamos apaixonarmo-nos por sistemas operativos, a partilhar as nossas casas com as esposas de Stepford, e a defendermo-nos de ataques de cyborgs. Enquanto filmes como Ex Machina e Her acariciaram os medos e desejos da nossa imaginação, as novas inovações em robótica e inteligência artificial estão a trazer as nossas visões do amanhã para mais perto do hoje.
Já pode dar um passeio num carro autónomo da Google, pedir o jantar a partir de um mordomo robot num hotel em Cupertino, e comprar um drone quadcopter pessoal por menos de mil dólares. Estes robots não são exatamente os Cylons do Battlestar Galactica ou os bots espaciais do filme Interstellar, mas não há dúvida de que estamos lá perto.
"Temos visto uma série de grande magnitude de melhorias em termos de capacidade e redução de custos de um sistema robótico de 2005 em comparação com um sistema de 2015", diz Andra Keay, diretora da Silicon Valley Robotics. "Vimos este mesmo melhorar na década anterior, mas o impacto só foi sentido na parte mais cara da cidade – na robótica de defesa ou suites cirúrgicas hospitalares ou sistemas de fazenda de gado leiteiro que custam um milhão de dólares", diz Keay.
Agora que as tecnologias contribuintes são mais baratas e suficientemente eficientes, a tecnologia robótica está a ser trazida para o mercado consumidor, e os investidores de risco estão a esforçar-se para estar na vanguarda da inovação.
De acordo com dados da CrunchBase, os investidores de risco depositaram 538 milhões de dólares em empresas de robótica ao longo de 104 rodadas de financiamento em 2014. E estão no caminho certo para ultrapassar esse total este ano, com 150 mil dólares já acumulados em 22 financiamentos de risco em menos de três meses.
Os investidores estão especialmente otimistas com a inovação robótica virada para o consumidor. Duas das maiores rodadas em 2015, foram para a 3D Robotics, uma companhia de UAV, e a Jibo, uma empresa que está a construir o primeiro robot interativo para o lar.
"A atual onda da robótica é realmente focada em robots que possam interagir com espaços humanos", diz Andy Wheeler da Google Ventures. "A rápida diminuição no custo de sensores que permitem que os robots vejam à sua volta está a retirar os robots das grandes gaiolas de metal em áreas de máquinas pesadas e a coloca-los em ambientes onde eles podem realmente a interagir com os seres humanos".
A Google Ventures apoiou 6 empresas de robótica até à data, de acordo com a CrunchBase, que vão desde a plataforma operacional de drones Airware, à Transcriptic, uma empresa de construção de robótica para laboratórios de biologia. Uma das apostas recentes de Wheeler, a Savioke, criou um robot de entregas que está a ter a sua estreia em alguns hotéis de Silicon Valley.
"Numa casa pode ter dois ou três quartos, e servir cinco ou dez refeições por dia, mas num hotel vai ter 300 quartos e servir milhares de refeições por dia - essa repetição é algo que se presta à robótica", diz Steve Cousins, fundador e CEO da Savioke.
Antes de fundar a Savioke, Cousins chefiava um laboratório de pesquisa robótica e a incubadora Willow Garage, onde supervisionou a criação do sistema operacional do robot (SOR), o robô PR2, e ajudou a lançar a 8 empresas de robótica - duas das quais já foram adquiridas pela Google.
"Construímos o robot mais simples que conseguimos de forma a forçar o outro aspecto da robótica, que é passar da demonstração, onde os robots estão tipicamente, à implantação", disse Cousins.
Popularidade entre consumidores
Os drones, ou robots voadores, demonstraram o quão rapidamente a tecnologia da robótica, uma vez implantada, pode conseguir a adopção do consumo de massas. Há dois anos atrás, não era possível a construção de um pequeno robot, porque o dispositivo de potência computacional era muito pesado para levantar com hélices. Agora o fabricante de drones favoráveis ao consumidor – DJI – está a caminho de se tornar a primeira empresa de drones a chegar aos primeiros mil milhões de dólares com mais de $500 milhões em lucros no ano passado.
Rob Coneybeer, fundador e diretor da Shasta Ventures, diz:
"Muitas pessoas estão a começar a despertar para a robótica, porque estão a ver o que está a acontecer agora com os drones e veículos autónomos".
A Shasta participou recentemente numa rodada de Série A para a empresa de serviços de robótica Fetch Robotics.
"Várias tecnologias facilitadoras estão a ultrapassar o que era o limite ao mesmo tempo, por isso, os avanços estão a ser muito mais rápido do que alguém dá conta", diz Coneybeer.
Não tanto com o frenesim dos drones, mas os consumidores já se demonstram ansiosos por introduzir novas tecnologias robóticas nas suas casas. A startup de robótica social, Jibo, arrecadou $2,2 milhões e tem 4800 robots da família pré-vendidos na sua campanha Indiegogo, batedora de recordes no ano passado, ainda antes de ter angariado $28 milhões em financiamentos de risco em Janeiro deste ano.
"A Jibo é uma espécie de cruzamento entre um tablet e um cachorro - sim há robótica envolvida, mas também é um companheiro que fica na bancada da cozinha e interage com a família", diz Bruce Sachs, sócio da CRV e investidor no Jibo.
Confiar no Jibo para agendar os seus compromissos, ensinar matemática ao seu filho, e atuar como o seu preparador físico pessoal – e tudo com uma personalidade que se desenvolve à medida que ele aprende consigo – é um grande salto da instalação de um termostato Nest ou de sistema de segurança Canary na sua parede. A quantidade de confiança que os consumidores têm em robots está claramente em ascensão. Mas isso significa que os robots vão ter a capacidade de ser mais espertos que nós na próxima década, como a ficção científica nos quer fazer crer?
"Há alguma verdade nisso, mas os problemas e os benefícios são absolutamente exagerados e mal entendidos. O impacto da tecnologia é muito superestimado a curto prazo e subestimado a longo prazo", diz Keay.
Isso é porque nós tendemos a associar a inteligência artificial com o reino total da capacidade humana, quando os robots que trabalham em fábricas ou até mesmo em casa requerem uma quantidade muito pequena de IA em comparação a isso. As máquinas destacam-se em ambientes estruturados, onde eles podem executar operações repetitivas, mas o desempenho em ambientes não estruturados é muito mais desafiador para qualquer engenheiro. Os últimos avanços na visão através do computador, por exemplo, permitem que os computadores identifiquem duas pessoas a ter uma conversa numa imagem - algo que uma criança humana pode fazer facilmente.
"Há uma lacuna no lado do consumidor da robótica, porque temos a expectativa que vem dos filmes de ficção científica de que estas coisas podem fazer absolutamente tudo, mas, na realidade, o robot de consumo mais popular é o Roomba", diz Wheeler.
Sim, o aspirador do pó. Com o nível de inovação que a robótica está ter, é possível que este não seja o caso por muito mais tempo.