A China desenvolveu um processo de atacar sites baseados no estrangeiro que estão contra os seus interesses. O alvo foi um site dedicado a furar a censura que o país impõe na internet. Haverão próximas vítimas?
A determinação da China em censurar informação dentro do país é exemplificada pelo maior cordão de isolamento digital do mundo, conhecido como a grande firewall da China (trocadilho com a grande muralha). Aqueles que tentam aceder ao Facebook na China ou pesquisar por termos considerados uma ameaça para o Partido Comunista são direcionados para écrans a dizer que o seu pedido ou pesquisa foi “reiniciado” – ou não recebem nada de todo. Tudo isto é alimentado por um massivo sistema informático.
A grande firewall reflete o medo dos governadores chineses de que a informação possa prejudicar o seu monopólio de poder. A grande firewall isola centenas de milhões de chineses do mundo inteiro.
Embora limitados – existem buracos na firewall. A tecnologia permite penetrar no cordão e alcançar sites estrangeiros. Um grupo sem fins lucrativos fora da China, o Greatfire.org, tentou divulgar métodos para contornar a censura e tornar alguns dos sites bloqueados acessíveis a partir da China. A 17 de Março os servidores utilizados pelo Greatfire.org foram inundados com um enorme volume de tráfego de internet. A cascata foi uma técnica bruta, contudo eficaz, conhecida como um ataque de “negação de serviço”. O objetivo passa por sobrecarregar um servidor até ao ponto de este ir abaixo. Os servidores do Greatfire.org, instalados na nuvem nos Estados Unidos, foram atingidos com 2,6 mil milhões de pedidos por hora ou 2.500 vezes o normal.
Agora, um grupo de investigadores de internet identificou a razão: a China contra-atacou. Os investigadores do Citizen Lab da Munk School of Global Affairs da Universidade de Toronto emitiram um inquietante relatório que sugere que a China ativou uma arma cibernética ofensiva contra o Greatfire.org. Os investigadores chamam-lhe “o grande canhão”.
Com efeito, a China foi além das suas fronteiras e levou a cabo um ataque destrutivo e poderoso contra um site do qual não gostava. Acredita-se que no ano passado a Coreia do Norte atingiu a Sony Pictures Entertainment, além fronteiras, utilizando diferentes técnicas.
A China há muito que tenta intimidar académicos, meios de comunicação e outros no exterior. A China chegou mesmo a conduzir uma campanha de ciber-espionagem, agressiva e intrusiva, contra alvos militares, governamentais e comerciais nos Estados Unidos e noutros pontos. Mas existe algo novo e perturbador na aparência do grande canhão.
De acordo com o Citizen Lab, a nova arma da China está relacionada com a grande firewall e é provavelmente uma criação do governo. Contudo, utiliza um método ofensivo distinto que não dispara diretamente para um alvo específico.
Pelo contrário: é implantado como um intermediário num servidor comercial ocupado e, de seguida, liberta o seu tráfego malévolo. No caso deste ataque a China aparentemente lançou o grande canhão a partir de sites pertencentes à Baidu, gigante da pesquisa e uma das empresas de internet de maior sucesso da China. Com efeito, uma parte do tráfego inocente que chegou aos sites da Baidu foi redirecionado para inundar o site Greatfire.org, numa tentativa de baixar os seus olhos.
Se o governo chinês fez isto ao Greatfire.org, um site que procurou anular a sua censura, então o que é que irá fazer a seguir? E dirigido a quem?