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A moda de colocar no Instagram fotografias de refeições em restaurantes está a ser aproveitada por alguns chefes. Outros porém recusam-se a ter pratos “virais”.

Os jantares fora atingiram a sua era Instagram na medida em que uma câmara é tão central na experiência como um garfo e qualquer pessoa com um olho decente tira fotografias dos pratos com qualidade de revista.

As pessoas sempre adoraram comer e os fotógrafos há muito reconheceram a inerente beleza dos alimentos. Mas os smartphones com lentes pin-sharp e aplicações que tornam a edição tão fácil como deslizar e tocar tornam qualquer um num fotógrafo de comida. Existem mais de 178 milhões de fotografias com o tag #food e 56 milhões com o tag #foodporn no Instagram. As pessoas estão obcecadas em fotografar o que comem, algo que os chefes profissionais estão a atender – e a aprender a partir daí.

“É tudo uma questão de exposição.” Diz Dominique Crenn do Atelier Crenn em São Francisco. Crenn, que se encontrava entre os chefes que entrevistei no simpósio Hospitality Terroir em Toronto, é a primeira mulher nos EUA a ganhar duas estrelas Michelin. “O Instagram veio para dar voz aos chefes e aos pratos que servem.”

Os chefes estão a abraçar esta ideia de forma significativa. Uma fotografia de um novo prato publicada nas suas próprias contas, ou de um restaurante, pode causar o aumento das reservas. Pratos deslumbrantes, ingredientes ousados e apresentações cuidadas ajudam à experiência e encorajam as pessoas a publicar, publicar e publicar fotografias nas suas contas nas redes sociais.

É claro que os chefes não se propõem a criar pratos virais – e alguns abominam mesmo a ideia. Alguns chegam mesmo a proibir câmaras nas suas salas de jantar – como Alexandre Gauthier, chefe francês, fez no ano passado no La Grenouillère. Mas muitos outros estão bastante cientes do poder das redes sociais e abraçam-nas.

“Vou ser sincero. Se eu tiver um prato mais bonito vou dá-lo às pessoas que tiram fotografias.” Diz Benedict Reade, o antigo chefe no Nordic Food Lab, em Copenhaga, que recentemente abriu um restaurante pop-up na Escócia.

O Instagram e as redes sociais são marketing boca a boca para a era digital e podem ajudar a construir o repertório e clientela de um chefe – desde que as fotografias sejam boas.

“Afeta-me quando vejo uma má crítica.” Diz o chefe Ned Bell do Hotel Four Seasons em Vancouver. “Mas afeta-me mais quando alguém tira uma má fotografia dos meus pratos. Preocupa-me o aspeto dos meus pratos no mundo das redes sociais.”

O intenso foco em fazer tudo corretamente vai além de mostrar toda a experiência, do menu até à decoração. As pessoas fotografam tudo e publicam tudo. “Os chefes preocupam-se com estas questões.” Diz Eric Werner, chefe no Hartwood em Tulum, no México, e os designers estão a colocar “mais ênfase em menos áreas de cozinha e mais espaços de empratamento.”

Mas Crenn diz que há “uma linha fina entre jantares irritantes e a exposição.” Muitos chefes detestam os clientes que se aproximam da sua refeição como se se tratasse de uma sessão fotográfica e tentam meticulosamente enquadrar uma cena, normalmente em detrimento do prato – e, ocasionalmente, de outros clientes. Não é incomum ver clientes a mexerem na câmara ou a tentar enquadrar uma fotografia enquanto o seu prato arrefece. “O que mais me irrita é quando as pessoas publicam no Instagram instantaneamente,” diz Reade, “quando sirvo alguém e coloco um belo prato quente em cima da mesa mas estão tão preocupados em publicar e o prato arrefece pois estão a tentar encontrar a legenda perfeita antes de comerem. Você sabe o quanto eu suei para preparar este prato na temperatura certa para si? Está aqui para se armar perante os seus amigos?”

Além de ser um recurso de marketing o Instagram é uma útil ferramenta de pesquisa. Muitos chefes têm contas, claro – Crenn tem mais de 12.000 seguidores, o chefe-celebridade Bobby Flay tem 10 vezes mais, enquanto Jamie Oliver tem cerca de 2,8 milhões. Eles veem-se uns aos outros, inspiram-se e tiram ideias.

“O Instagram cria tendências. Todos desenham uma linha de molho da mesma forma pois um chefe vê, e outro também vê.” Diz o chefe Anthony Walsh do Olivier & Bonacini.

“Antes você tinha que ir a um restaurante para ver e provar um prato. Agora você pode ver os pratos, como são feitos.” O chefe Jair Tellez do MeroToro na Cidade do México prontamente admite fazer isso mesmo.

“Gosto de ver de vez em quando.” Diz. “O que é que o Rene Redzepi está a fazer no Noma ou o Inaki Aizpitarte no Le Chateaubriand? Se gostar do esquema de cores, técnica, prato ou combinação de ingredientes posso duplicar na minha própria cozinha. É uma questão de partilhar ideias. Antes havia livros de receitas, agora é tudo mais acessível.”

É claro que haverá sempre o risco de que os clientes – e talvez os chefes – favoreçam grandes e bonitos pratos que poderão ser, se não chatos, mundanos.

“As pessoas colocam tanta ênfase no aspeto dos pratos.” Diz Reade. “As coisas mais deliciosas não têm o melhor aspeto.”

É um ponto válido. Uma boa sopa de cogumelos é algo maravilhoso mas não necessariamente atraente. Como em tudo o equilíbrio é fundamental. Os melhores chefes percebem que a comida vem em primeiro lugar mas têm noção de que a aparência é, para muitos, tão importante como o sabor.

“Os chefes são artistas. Nós tentamos construir o prato para que fique bonito.” Diz Bell. “Se penso nas câmaras quando crio um prato? Não. Mas se ficar bonito, eu próprio tiro uma fotografia.”

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