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Perceba os efeitos perniciosos da dependência das publicações informativas da publicidade que lhes é dada nas redes sociais.

Aqui fica uma forma de compreender a relação simbiótica entre as publicações informativas e as plataformas de redes sociais na era digital. As publicações dependem de dinheiro proveniente de publicidade para continuarem a publicar conteúdos, por isso, estas precisam de prender a atenção dos leitores. As grandes plataformas como o Facebook e o Twitter já recebem bastante atenção, no entanto, precisam de grandes quantidades de conteúdo para preencherem o seu fluxo de notícias. Dessa forma, não é estranho que as publicações tenham começado a depender das plataformas para incitar a leitura.

Contudo, há um senão: esta é uma forma verdadeiramente depressiva e distópica de ver os editores e as plataformas. Isto só faz sentido se se vir a escrita como um produto fungível e o mundo apenas pelos olhos do capitalismo na sua fase final. A pior coisa em relação ao Facebook – e ao Twitter, ao Snapchat e a todos os outros deuses no panteão das plataformas – é que muito provavelmente é assim que eles pensam em relação aos editores. E é essa forma de ver as coisas que vai sufocar a independência jornalística e a web aberta.

As plataformas estão a devorar os editores

Há uns tempos atrás escrevi sobre os adblockers e como eles iriam salvar-nos de uma maré crescente de “iscos de cliques”. Nem todos concordaram. De facto, a minha opinião em relação ao adblocking é mais promissora do que as de muitos.

Uma investida diferente e mais popular nos adblockers é que eles – juntamente com a aparente mudança inexorável dos utilizadores para os dispositivos móveis – vão drenar os lucros das publicidades das publicações, que por sua vez vão tornar as publicações ainda mais dependentes das plataformas.

Os desmancha-prazeres da The Awl têm pensamentos presumivelmente inteligentes, se não mesmo pessimistas, nesse sentido. No seu artigo “Welcome to the Block Party” (Bem-vindos à Festa dos Bloqueios), Casey Johnston escreve:

[À medida que] as publicações transitam para se tornarem fornecedoras diretas de conteúdos para as redes sociais e plataformas cujas audiências já estão a roubar, tais como o Facebook, o Twitter, o Snapchat, a Google, talvez a Apple News (ou Medium??), muitas das publicidades vão continuar a funcionar da mesma maneira – colocadas à frente, atrás e entre conteúdos –mas vendidas e fornecidas pela plataforma em vez de ser pelo editor. O Adblocking, na medida em que contribui para a dizimação dos lucros provenientes de publicidade, vão acelerar o seu êxodo para as plataformas.

É verdade que as plataformas aguardam os editores de braços abertos. Desenvolveram uma forma empolgante e híper-eficiente de chamar a atenção para os editores – eliminaram por completo a necessidade de estes precisarem de sites.

Vamos dar uma vista de olhos às plataformas que de momento estão a oferecer propostas de publicação. O Instant Articles do Facebook existe exclusivamente dentro do mundo do Facebook e, segundo a mensagem que o publicitário deixou no blog Washington Post, “é a aplicação do Facebook para o iOS que proporciona uma experiência de leitura, partilha e de comentários para o utilizador à velocidade da luz”.

A Apple tem a Apple News, que permite aos utilizadores acederem a todas as notícias que conseguem encontrar em qualquer lado, com a exceção de as apresentar de uma forma 10 vezes mais bonitas. Já a Google tem a Accelerated Mobile Pages (AMP – Páginas Móveis Aceleradas). É um sistema semelhante ao do Instant Articles, tirando o facto de se expandir a mais plataformas e softwares de código aberto. O Twitter tem o Moments. E não esqueçamos o Snapchat. Aparentemente, 21% do tráfego dos vídeos do Buzzfeed é o tráfego do Snapchat.

Repare que estas plataformas são quase na íntegra exclusivas de aparelhos móveis. Estas plataformas são aplicações, não sites. Os leitores encontram-se nas plataformas móveis e é aí que os editores também deviam estar – ou pelo menos, foi assim que nos contaram.

“Vai para onde os leitores estão” é o que sussurram a si mesmos os editores à medida que se esgueiram pelo cemitério dos seus irmãos inflexíveis e azarados. “Vai para onde os leitores estão” é o que sussurram a si mesmos, à medida que estremecem perante os deuses mercuriais das plataformas, enquanto aguardam para ver se vão ser adorados ou eliminados. E de facto, faz algum sentido ir para onde os leitores estão, pois é lá que se concentra toda a atenção. Contudo, vai sair-lhes caro.

O preço das plataformas

Será que o Facebook – ou o Apple News, ou seja qual for a plataforma – querem mesmo continuar a ter os editores à perna? Talvez toda a existência das editoras seja um pouco mais do que uma ineficiência para ser reduzida a algoritmos. É disto que John Herrman do The Awl está constantemente a avisar-nos.

A ideia do Facebook e do seu gangue atuarem como guardiões da informação é de igual forma uma perspetiva pouco animadora. Repare, por exemplo, como o Facebook não estava a deixar o The New Republic criar uma publicidade para um artigo inócuo sobre marijuana (mais tarde mudou de ideias sem qualquer explicação). Se o Facebook já fica um pouco reticente por causa de um artigo sobre marijuana medicinal agora, imagine o estado do quarto poder quando as plataformas que gostam de se manter afastadas da controvérsia tiverem um papel mais direto na produção e distribuição de notícias.

Mas a maior questão é que a lógica da eficiência na internet vai sempre favorecer a escala – que é o mesmo que dizer plataformas – do que os editores. O que significa que vão ter de ser os editores a contorcer-se para caberem no universo das plataformas e não o contrário.

Quando as publicações se tornarem serviços de rede para as plataformas, as coisas vão ficar ainda mais apertadas. Concentram cada vez mais a sua preciosa energia institucional para chegar mais à audiência da plataforma do que propriamente a sua própria audiência, e aí a sua voz muda. Deixam de prestar atenção às necessidades e preferências das suas audiências leais e passam-na para a sua desleal, emprestada e derivada do Facebook, perdendo assim intimidade e confiança.

E é por isso que hoje em dia muitos artigos parecem soar todos à mesma coisa. Tal como o professor e autor Fredrik deBoer escreve, quando se é “mais um site a publicar artigos de pessoas que escrevem sobre notícias e políticas e cultura e por vezes desporto”, então vai-se estar simplesmente a “juntar-se a muitos outros sites que também publicam artigos de notícias e políticas e cultura e por vezes desporto”.

No meu caso, recebo mais notícias a partir do Twitter. Se não olhar para a manchete ou o logótipo, é fácil confundir o conteúdo atual do Fusion pelo do Mic ou o conteúdo do FiveThirtyEight pelo do Vox. É provável que esta tendência piore ainda mais à medida que cada vez mais editores se rendem ao mandato das plataformas.

Existem muitas outras desvantagens. Os leitores leais permitem que as publicações desenvolvam relações especiais com as suas audiências, algo pelo qual o Facebook não tem substitutos. Tive em tempos um blog. Não era uma coisa muito grande, mas eu gostava de saber para quem estava a escrever. Adorava saber que as mesmas duas centenas de pessoas iriam voltar uma e outra vez e que podia fazer experiências com a forma, o estilo e o alcance que teria sempre uma audiência com a qual podia sempre contar.

Um adeus ao contexto

E depois há ainda a questão da retirada do contexto – ou seja, a forma como os artigos começam a perder significado quando são arrancados da história e voz da sua publicação. O fenómeno é um pouco do género do “colapso do contexto” (ou “quebra da conversa”), quando um comentário que até pode fazer sentido para uma audiência limitada de amigos e família porque estão dentro do contexto pode assumir significados diferentes quando exposto a um número infinito de leitores online.

No Facebook, o contexto pode ser tudo o que apareça em cima e em baixo de um artigo no fluxo de notícias, que pode ser tudo – uma fotografia de um bebé, um aniversário, uma opinião moralista, etc. Assim que o contexto é retirado, perde-se todo e qualquer significado. Contudo, quando os leitores se imergem no discurso singular de uma publicação (assumindo que a publicação é o único discurso), ganham acesso ao significado e pormenor.

A suposição de Jeet Heer com o legado de racismo do The New Republic, ganha muito mais peso se a pessoa que está a ler o artigo estiver familiarizada com a publicação e a sua perspetiva historicamente neoliberal. Da mesma forma que os leitores que entendem a vigorosa voz do The New York Times estão melhor preparados para reconhecer falhas ou prejuízos nas suas reportagens. Todavia, os idiomas e a gramática de uma publicação, em tempos valorizadas, tornaram-se agora fachada. Os leitores têm cada vez menos incentivos para se envolver de forma significativa com o jornalismo, que só apressa ainda mais a retirada lenta do contexto.

O caso do acesso pago

Também estamos a perder a forma aberta e orgânica da web. Está cada vez mais a tornar-se algo muito mais rígido e hierárquico. Tal como o blogger iraniano Hossei Derakhshan escreveu para o Matter: a hiperligação costumava ser a minha moeda há seis anos atrás. Resultante da ideia do hipertexto, a hiperligação proporcionou uma diversidade e descentralização que faltava no mundo real. A hiperligação representava o espírito aberto e interligado da world wide web – uma visão que se iniciou com o seu inventor, Tim Berners-Lee. A hiperligação era uma forma de abandonar a centralização – todas as ligações, linhas e hierarquias – e substituí-las com algo mais distribuído, um sistema de nós e redes.

Os “nós e redes” abertos dos sites são um contraste direto ao punho fechado das plataformas. Derakhshan escreve “agora, quase todas as redes sociais tratam uma ligação da mesma forma que tratam outro objeto qualquer – uma fotografia ou um texto – em vez de a verem como uma forma de tornar o texto mais rico”.

À medida que as publicações correm para serem as primeiras a disponibilizar o seu conteúdo – ou mesmo a disponibilizá-lo de forma exclusiva – nas plataformas, vão abandonando a web aberta. Mas talvez a web aberta tenha sido apenas um sonho febril do final dos anos 90 e adiante. Talvez a internet não se vire tanto para a abertura, afinal. Mas acredito (e tenho esperança) que ainda exista uma internet selvagem e estranha pela qual valha a pena lutar para manter a sua abertura, contexto e liberdade.

A resposta é simples, mas não é fácil. Temos de parar de fingir que os conteúdos são grátis. As publicações têm de pedir aos leitores que paguem diretamente pelos seus conteúdos e os leitores têm de estar dispostos a dar dinheiro por isso e a deixar de lado a sua privacidade e atenção. O que significa que as publicações terão de abandonar os modelos de negócio de crescimento rápido derivados da apresentação de publicidade, que as levou a estarem dependentes do Facebook para conseguirem milhões visualizações de página por mês.

Há muito para ganhar neste cenário. Os leitores podiam beneficiar da web aberta enquanto evitam os excessos de alvos de cliques do jornalismo em internet sustentado por publicidade. Os editores podiam conquistar novamente a independência, a lealdade e o contexto. As únicas partes que ficam [um pouco] a perder são o Facebook e as restantes plataformas. No entanto, não precisamos de nos preocupar assim tanto com a saúde das plataformas. A natureza tem formas de resolver as coisas sozinha.

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