Este era o ano em que era suposto termos hoverboards e carros voadores. Mas em vez disso, ficámos com mais robôs que deixam muito a desejar. Conheça os protagonistas.
Apesar de terem aparecido incontáveis vezes nas notícias, na televisão e nos ecrãs de cinema este ano, a verdade é que os robôs ainda não parte integrante na nossa vida. Até podem construir os nossos carros e limpar o chão, mas na maioria dos casos, os robôs continuam fechados em instituições de investigação e space operas. A Quartz compilou algumas das maiores histórias de robôs do ano que mostram como estas máquinas ainda não estão prontas para o “horário nobre”, mas que também já dão uma pista de um futuro robótico que pode estar mesmo ao virar da esquina.
O desafio de Robótica DARPA
Inspirando-se no desastre nuclear de 2011 na Fukushima Daiichi, a divisão de investigação do Pentágono DARPA queria receber uma competição em que se criava robôs que pudessem operar em situações que normalmente são perigosas para os humanos. A competição deu-se durante o verão, com robôs de universidades e instituições de todas as partes do mundo a tentar completar tarefas como atravessar portas, conduzir carros, girar válvulas e muitas outras coisas que precisavam de ser feitas na central nuclear Fukushima.
Embora o objetivo da competição fosse algo grandioso – incitar o desenvolvimento de robôs que pudessem um dia salvar as nossas vidas – a realidade foi muito mais cómica. Muitos dos robôs tiveram de se esforçar imenso para completar a maioria das tarefas sem caírem como humanos bêbedos. Caíram de carros, escadas, até mesmo ao tentar rodar uma maçaneta. E quando conseguiam concluir uma tarefa, passavam muito tempo a ponderar no trabalho que tinham à sua frente antes de entrar em ação. Se estivessem numa corrida contra o tempo, muito provavelmente tramavam o humano que estivessem a tentar salvar.
A equipa vencedora, a Equipa Taist da Coreia do Sul, demorou cerca de 45 minutos para concluir um programa que um humano muito provavelmente conseguiria resolver em circunstâncias normais, apenas alguns minutos. Contudo, a competição, com os seus robôs lentos e sempre a cair, pode mesmo assim inspirar algum otimismo sobre o futuro da robótica: em 2004, uma agência foi palco de uma competição de carros com condução automática, no qual nenhum participante conseguiu completar o percurso. Oito anos mais tarde, temos carros de condução automáticos nas estradas de Califórnia, e em breve, estarão em muitos mais sítios.
Quem sabe – talvez daqui a oito anos tenhamos os nossos próprios robôs pessoais em casa, já´que cada vez mais se aplica dinheiro em investigação. Gill Pratt, coordenador do desafio de robótica, desde essa altura que deixou a DARPA para supervisionar um fundo de capital de risco de mil milhões de dólares para a Toyota, que tem estado a trabalhar há anos em carros com condução automática e robôs de assistência. É possível que, durante o mandato de Pratts, a empresa japonesa possa produzir em breve robôs para nos transportar a sítios, cuidar de nós nos hospitais ou mesmo nas nossas próprias casas. Com um pouco de sorte, nessa altura eles já serão capazes de abrir portas sem caírem.
Tomatan
Este é apenas um robô japonês que o alimenta com tomates enquanto corre. Não há muito mais a dizer sobre este. O Japão é um lugar esquisito!
hitchBOT
Estava mesmo quase a não incluí-lo nesta lista, já que quase não é um robô. É basicamente um caixote do lixo ligado à internet que dois investigadores no Canadá construíram, aparentemente para testar os limites da nossa humanidade. O robô foi deixado a pedir boleias no Canadá, na Holanda e na Alemanha, enquanto ia registando o seu progresso e colocando fotografias das suas viagens no seu site. O HitchBOT durou duas semanas completas numa viagem semelhante nos EUA, antes de ser decapitado em Filadélfia, a cidade do amor fraternal. O robô vagabundo foi devolvido ao seu criador no Canadá, que não contribuiu com qualquer avanço significativo para a robótica. Mas parece sugerir que nem todos nós nos sentimos muito confortáveis com a prospetiva de ter robôs com forma humana nas nossas vidas.
Slackbot
O Slack, a ferramenta de comunicação em locais de trabalho, é adorada pela sua base de milhões de utilizadores, em parte pela sua capacidade de integrar praticamente tudo o que as empresas utilizam no software. Pode conectar ferramentas de gestão de projetos, serviços de partilha de ficheiros, fluxos RSS e até robôs programáveis com os quais os utilizadores podem comunicar no Slack. No entanto, o agente virtual da empresa e mascote, o Slack bot é muito inútil. Se lhe pedir numa linguagem muito precisa, que o lembre de fazer alguma numa hora específica, ele é capaz de o fazer. Pode dizer “olá” e responde-lhe se alguém o referir numa mensagem, contudo, não consegue propriamente manter uma conversa consigo.
Estão a surgir cada vez mais assistentes virtuais – tal como o Slack – e à medida que o processamento da linguagem natural e as ferramentas de reconhecimento de voz progridem, é provável que venham a ter um impacto muito maior nas nossas vidas. A Slack não estava imediatamente disponível para comentar se estava a planear tornar o Slackbot num assistente mais útil, no entanto, a Quartz descobriu um motivo ulterior:
Mike: O Slackbot está a tramar alguma coisa em segredo contra nós? Slackbot: Eu sei, mas não te vou dizer.
Facebook M
O assistente virtual do Facebook, construído diretamente na aplicação Messenger, foi lançado para um pequeno grupo de utilizadores este ano. Peça ao M que reserve um jantar no distrito Mission que ele vai trabalhar para lhe arranjar uma, quase como que por magia. Contudo, ao contrário do Siri ou da Amy da x.ai, o M é atualmente parcialmente por humanos. O Facebook afirmou que está atualmente a utilizar humanos para ajudar a selecionar os pedidos que as pessoas fazem ao M quando a sua programação de IA falha.
Assim sendo, embora de momento não seja um assistente controlado por um robô, pode muito bem vir a ser um dia – o Facebook está a utilizar todas as interações com o M, todos os pontos de dados e pedidos, para treinar a sua IA a compreender melhor o que lhe é pedido e como deve realizar um pedido. É uma abordagem lenta e metódica para se fazer com um sistema de IA, contudo, tal como referiu a Popular Science, que pode um dia produzir computadores que “conseguem aprender o suficiente para compreender o mundo em seu redor”. Isto partindo do princípio de que o Facebook vai-se ficar pela investigação a longo prazo.
Outros assistentes virtuais
O Siri da Apple, o Now da Google, a Cortana da Microsoft a curiosa Amy Ingram da x.ai são todas ideias maravilhosas que não funcionam assim tão bem como gostaríamos. Seja pela horripilante ideia de ter uma peça de software a tentar ter uma conversa connosco ou facto de parecer que eles nunca entendem muito bem o que nós lhes dizemos, ou mesmo descobrir o que procuramos quando conseguem entender-nos, todos ficam um pouco aquém. Muitas vezes temos de ajustar a nossa voz para que eles nos entendam. À medida que o software de reconhecimento de voz e compreensão da língua vai se tornando cada vez – são várias as empresas a trabalhar nesse sentido, sendo algumas delas a Nuance, a SoundHound e a IBM – é provável que os assistentes virtuais se tornem mais inteligentes e possam tornar-se na forma padrão de pesquisarmos informação na internet. No entanto, atualmente ainda estão a uma galáxia de distância de se tornar nos computadores ativados por voz que vemos na ficção científica.
BB-8
Mas é suposto ter modos adicionais que permitem os seus utilizadores programar trajetórias para o droid seguir, assim como entender comandos por voz e ser capaz de rondar pela casa.
I may have completely lost the ability to control him, but he seems to be having fun pic.twitter.com/xblZXkK9Lr
— Mike Murphy (@mcwm) 3 сентября 2015
Alguns dos proprietários do brinquedo duvidam da sua capacidade para fazer essas coisas e, ao testá-lo, descobri que tem algumas falhas e que é difícil de controlar. Também ficava constantemente a querer decapitar-se a si próprio, algo que não convinha acontecer.
MegaBots
Um grupo de engenheiros em Oakland está a trabalhar num robô gigante que vai lutar com outro robô gigante do Japão. Embora o valor de entretenimento deste empreendimento possa ser enorme, neste momento o robô não consegue fazer grande coisa sozinho, e os seus criadores disseram anteriormente à Quartz que ainda estavam a tentar descobrir “como não morrer” durante o combate. Mas pondo o ridículo de lado, a MegaBots conseguiu angariar mais de $550.000 (€503.386) para criar um desporto com os seus robôs e pretende encorajar uma geração de miúdos a interessarem-se pela engenharia e robótica. A equipa até tem estado a recrutar pessoas com títulos como “Designer de Robôs de Luta Gigantes” ultimamente.
O drone com uma arma
Um adolescente de Connecticut construiu um drone que podia disparar uma arma no início deste ano, e agora construiu um com um lança-chamas incorporado. Isto não tem qualquer propósito útil, no entanto, se tivermos em conta que um estado dos EUA já legalizou a capacidade de os polícias poderem utilizar drones voadores para controlar multidões, é assustador pensar que todo o nosso policiamento pode ser feito remotamente a partir de robôs voadores. Tipo o Amazon Prime Air, mas para fins de justiça.
Robot World Cup
Alguns dos melhores exemplos nos últimos anos de robôs a falharem de uma forma espetacular na realização de tarefas que tenham para fazer foram os participantes na taça mundial de robôs, ou RoboCup. Estas são equipas de robôs de vários tamanhos e capacidades com o objetivo de jogar pequenos jogos de futebol umas contra as outras.
O campeonato deste ano ocorreu em Heifei, na China, sendo o objetivo da competição promover a robótica e a investigação da IA. Os organizadores querem conseguir criar uma equipa de robôs que consiga derrotar um grupo de humanos no ano de 2050. A competição tem acontecido desde 1997, e parece que o objetivo ainda está longe de se alcançar – estes robôs são péssimos em passar a bola, correr e marcar golos – coisas que normalmente é preciso saber-se fazer para se jogar futebol.
O robô de pequeno-almoço
Simone Giertz construiu um robô para o Motherboard que era suposto preparar-lhe o pequeno-almoço.
Foi ela que construiu o robô e que o programou, e os resultados acabaram por ser muito parecidos aos dos robôs DARPA, nomeadamente: era assim que seria um pequeno-almoço servido por alguém mesmo muito embriagado. Mas o seu trabalho aponta para algo muito mais impressionante e excitante. Foi ela que comprou as peças na internet, tratou sozinha da programação e pôs o robô a fazer algo para ela – embora tenha sido um desastre.
Será que 2016 vai ser melhor neste campo?
Os robôs dos dias de hoje, tal como os computadores, são apenas tão inteligentes como as pessoas que os operam. São conchas vazias que, na maioria das vezes, apenas seguem as nossas ordens numa forma repetida até se estragarem. Mas muitas pessoas inteligentes estão a trabalhar para tornar os robôs aptos para resolver problemas sozinhos, ultrapassar obstáculos e serem capazes de compreender o que queremos que eles façam. Estamos a chegar a um ponto em que a tecnologia robótica – desde os sensores à visão computacional e aos acionadores de movimento – é sofisticada o suficiente para construir robôs que possam encontrar o seu caminho no mundo. A Boston Dynamics da Alphabet construiu um robô que pode correr pela floresta sozinho e vários investigadores estão a trabalhar em robôs que podem aprender a andar da mesma forma que as crianças aprendem.
As coisas que tomamos como garantidas – excelentes competências motoras, a perceção das cores, ser capaz de compreender os outros – são extremamente difíceis de mostrar a um robô como fazer. E tal como o diretor de investigação de IA do Facebook, Yann LeCun contou à Popular Science, não existem momentos eureka na investigação de IA.
“Este é um dos maiores e mais complicados desafios científicos dos nossos tempos, e não é qualquer entidade, ou mesmo qualquer grande empresa, que pode resolver isso sozinho”, disse LeCun. “Tem de ser um esforço colaborativo entre toda uma comunidade de investigação e desenvolvimento.”
Por isso, é pouco provável que vejamos poucos robôs a fazerem coisas estúpidas no próximo ano – 2014 foi quase tão mau como 2015 – mas o futuro é, apesar de uto, brilhante. Pode demorar ainda alguns anos até podermos ter os nossos próprios C-3PO, mas robôs, tal como os humanos, aprendem com os seus erros. E desde que continuem a levantar-se quando caiem, talvez um dia possamos ter robôs que façam tarefas que nós não sejamos capazes de fazer, ou não queiramos.