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A mais recente tentativa da Apple para entrar no mercado de smartphones na Índia – com a venda de telemóveis usados – está a enfrentar alguma resistência.

A fabricante do iPhone procura permissão para se tornar a primeira empresa autorizada a importar e a vender telemóveis usados no país, a sua segunda tentativa em vários anos. Desta vez, as apostas são mais elevadas e um número crescente de executivos da indústria está a lutar contra o movimento – alertando o governo de que irá abrir as portas ao lixo eletrónico, comprometer empresas locais e prejudicar o programa Make in Índia (produzido na Índia) do primeiro ministro, Narendra Modi, para encorajar a produção local.

Sudhir Hasija, presidente da Karbonn Mobiles que vende cerca de 1,7 milhões de telemóveis por mês, avançou:

“O Make in India poderá tornar-se o Dump in India (despejado na Índia).”

O pedido da Apple em 2015 foi rejeitado pelo ministro do Ambiente sem muito alarido. No entanto, as coisas mudaram desde então: a Índia representa agora uma vasta oportunidade inexplorada para a Apple – com a procura na China e EUA a desacelerar. A Apple tem falado publicamente das suas perspetivas quanto à Índia e está a caminho da obtenção de luz verde para abrir as suas primeiras lojas.

A sentir a ameaça, o principal órgão representativo da indústria de fabrico de produtos eletrónicos criou recentemente um grupo de lobby – e escreveu diretamente ao governo a opor-se veemente ao pedido da Apple.

“Por que razão sequer considerar a importação de telemóveis usados quando a importação de outros bens usados, como carros, está impedida por impostos de 2005?” – Perguntou Ravinder Zutshi, presidente do recém-criado Mobile and Communications Council, que enviou a carta. Entre os membros do grupo encontram-se as maiores marcas de telemóveis da Índia: Micromax, Intex e Samsung.

Um mercado essencial

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A fabricante dos mais caros smartphones do mundo tem-se sentido frustrada com baixos rendimentos e regulamentações. No entanto, vender dispositivos renovados poderá ajudar a converter consumidores sensíveis ao preço – que anteriormente teriam de desembolsar os rendimentos de um mês ou mais para possuir um smartphone da marca. No mês passado a Apple lançou o iPhone SE, mais pequeno e mais barato – a partir de 399 dólares – no entanto ainda fora de alcance para muitos consumidores indianos.

A Apple tem agora menos de 2% do mercado indiano – em que 4/5 dos telemóveis custam menos de 150 dólares e onde os smartphones de marca estão disponíveis por tão pouco como 35 dólares. As multinacionais ocidentais, desde fabricantes de carros a fornecedoras de refrigerantes, recorrem a preços “apenas para a Índia” e cortam as taxas dos produtos “edição para a Índia” para atrair clientes. A Apple não vê como aplicar essas estratégias sem denegrir a aura do seu iPhone.

Ainda assim as suas vendas aumentaram 76% no trimestre das férias, indicando que a procura da marca está a aumentar. Tim Cook mencionou perspetivas “incrivelmente excitantes” quanto ao país na sua última conferência de resultados e avançou que a empresa irá dedicar mais energia a esse mercado.

“Tudo isto empata perfeitamente com a estratégia da Apple – com o mercado de smartphones a alcançar um pico no país nos próximos anos.” – Afirmou Neil Shah, diretor de pesquisa (dispositivos e ecossistemas) na Counterpoint Research. “A Apple irá vendê-los a preços muito mais baixos, reduzindo barreiras à entrada na Índia – onde os iPhones novos estão fora do alcance das massas.” Acrescentou que a Apple poderá alcançar os 10 milhões de vendas de iPhones por ano em 2017.

Não à entrada

Mas as restantes fabricantes de smartphones não terão nada disso. Uma das principais queixas associadas ao pedido da Apple é que a permissão – para que esta avance – irá resultar num dilúvio de importações de eletrónicos usados. Empresas com capacidade global, como a Foxconn Technology Group, estão a considerar ou começaram a tomar medidas quanto ao fabrico local, tendo começado com a montagem básica. De acordo com Hasija, qualquer flexibilização das restrições à importação poderá pará-las.

Hasija, que já criou quatro montadoras por todo o país, desde que o programa foi lançado, e está a criar a quinta, afirma:

“A Make in India perderia bastante.”

Outra crítica foca-se nos potenciais danos em relação ao ambiente. Quando destruídos os telemóveis resultam em materiais tóxicos com os quais a Índia não está habituada a lidar. Baterias e ecrãs LCD usados poderão piorar o problema de lixo eletrónico que o país já enfrenta.

“Os milhões de telemóveis usados importados irão precisar de baterias novas. O que irá acontecer a essas baterias, para onde irão?” – Perguntou Sunil Vachani, presidente da Dixon Technologies, cujas montadoras de telemóveis criam um milhão de telemóveis por mês para marcas como a Panasonic (japonesa) e a Gionee (chinesa).

“Sou contra qualquer alteração na política em relação à importação de telemóveis usados.”

Possível solução

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Para a Apple a saída poderá ser encontrada a 15.000 quilômetros da Índia. Há cinco anos atrás, o Foxconn Technology Group – a pedido da Apple – começou a produzir iPhones no Brasil. Sem as infraestruturas e a cadeia de fornecimento o Brasil era, e ainda é, um terrível lugar para produzir. No entanto, graças às tarifas e a pressão local a montadora de Taiwan não teve qualquer escolha.

Enquanto o Brasil sonhava com enormes fábricas à escala de Shenzhen, a empregar centenas de trabalhadores, a Foxconn encontrou uma solução alternativa. Em vez de reunir dezenas de diferentes componentes para compilação no país, a Foxconn enviou dispositivos quase concluídos, semelhantes a kits Lego, e recorreu a uma força de trabalho muito menor para os montar. Apesar de ostentarem a etiqueta “Made in Brasil” esses iPhones eram maioritariamente chineses.

Até recentemente a Apple assumiu uma abordagem “destruir tudo” quanto à reciclagem de iPhones. Os dispositivos foram despedaçados e os componentes esmagados ou derretidos. Agora a empresa tem o Liam, um robot que a Apple afirma que pode desmontar 1,2 milhões de iPhones por ano, separando-os em partes.

De acordo com a IHS, 98% do custo do iPhone deriva dos componentes. A montagem em si custa menos de 5 dólares. Se a Apple, com a ajuda de Liam, conseguir desmontar iPhones antigos – a serem novamente montados na Índia – então a empresa poderá encontrar harmonia com a política Make in India.

Essa ação também ajudaria a evitar as tarifas sobre telemóveis importados, que foram recentemente duplicadas, economizando no custo de produção de componentes.

A quantidade de desmontagem necessária para evitar a proibição de importações da Índia está aberta a discussão – no entanto parece razoável que os modelos quase completos venham a satisfazer a definição de componentes, em vez de “telemóveis usados”.

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