Matthew DeBord, que colabora com o businessinsider.com, analisa o futuro da Uber e o papel que a Apple poderá deter quanto ao mesmo
Considerar a Uber um unicórnio de Silicon Valley é coisa do passado. A Uber vale 62,5 mil milhões de dólares e ameaça derrubar o nervoso mercado da tecnologia.
A última notícia é que a Uber aceitou um investimento de 3,5 mil milhões de dólares na semana passada do fundo de riqueza soberana da Arábia Saudita.
Isso significa que a Uber tem agora 11 mil milhões de dólares para alimentar o seu crescimento. No entanto, o que está visivelmente ausente do assumido crescimento é algum tipo de estratégia de saída para anteriores investidores.
Haverá uma Oferta Pública Inicial? Não tão cedo – se Travis Kalanick, CEO, alcançar o que pretende.
Existe outra opção, claro: aquisição.
Conservadoramente, o valor de aquisição da Uber seria algo como 80 mil milhões de dólares. A Tesla tem uma capitalização de mercado de cerca de 30 mil milhões de dólares. A General Motors de 46 mil milhões de dólares e a Ford de 52 mil milhões de dólares.
Nenhuma dessas empresas tem dinheiro suficiente para adquirir a Uber.
Mas há uma empresa que tem: a Apple (NASDAQ: AAPL).
A Apple tem mais de 200 mil milhões de dólares em fundos, títulos e valores mobiliários comercializáveis. Embora nem tudo seja imediatamente acessível sem um grande golpe fiscal, a Apple também poderia utilizar as suas ações para comprar a Uber.
Porque quereria a Apple comprar a Uber?
A Apple poderá estar a criar um carro – e poderá não estar. No entanto, a Apple está definitivamente a fazer algo na frente da mobilidade. Infelizmente, é apenas uma fornecedora de uma pequena parte de software para fabricantes de automóveis: o Apple CarPlay. O CarPlay é excelente mas a Apple deverá querer mais.
A Uber propõe redefinir a mobilidade. Quem precisa de carro quando pode chamar um através do seu iPhone? Existem outras empresas a saltar para esta nova área, incluindo fabricantes de automóveis como a GM e VW. A Apple também fica atrás da Google quanto à auto-condução. E, claro, há anos que a Tesla tem vindo a construir carros.
A Apple investiu mil milhões de dólares numa concorrente chinesa da Uber, a Didi Chuxing, logo a empresa está claramente interessada em entrar em ação quanto a esse mercado.
Comprar a Uber permitiria que recuperasse rapidamente – e, não por acaso, criaria uma grande base de clientes para o Apple Car – se o mesmo surgir.
Estabilizar a economia do unicórnio
Estará a Uber com problemas?
Nem todos os sinais são bons. A empresa está a investir bastante dinheiro a um ritmo alarmante e a contar com financiadores aparentemente insaciáveis para a sua manutenção. Não está a ter uma experiência fácil na Europa, as suas rivais norte-americanos estão a chegar às grandes fabricantes – a GM investiu 500 milhões de dólares na Lyft – e é uma incógnita como se sairá na China.
A Uber é a mais impressionante start-up de Silicon Valley desde o Facebook – contudo, ao contrário do Facebook, a Uber opera no mundo real de motoristas, passageiros, sindicatos, governos e máquinas.
Os recentes fundos reunidos junto da Arábia Saudita relembram o que se passou com a Tesla por volta de 2008. A Tesla ainda não tinha entrado na bolsa mas já tinha cativado o mundo. No entanto, estava a ficar rapidamente sem dinheiro. Assegurou investimento adicional e recebeu um empréstimo do governo dos EUA, mas também vendeu partes de si própria à Toyota e Daimler (e ambas venderam mais tarde as suas participações depois da Tesla ter entrado na bolsa em 2010).
Agora sabemos o quão desesperada estava a Tesla. A falência estava a algumas semanas de distância em 2008 e apenas o novo fluxo de investimento no final de dezembro manteve as luzes acesas.
A Uber não parece desesperada mas sabemos que não está próxima de fazer dinheiro. O objetivo passa por tornar-se enorme para dominar o setor por todo o mundo. No entanto, já domina nos EUA e isso ainda não foi suficiente.
Se a Uber ficar sem investidores terá de se retirar de certas áreas de negócio, como a China, ou assumir um grande corte no seu valor. Tal poderia provocar uma fuga de investimentos como não vemos desde a recessão de 2008.
A Apple poderia tornar-se uma heroína de Silicon Valley ao solucionar o problema da Uber.
O investidor de último recurso
Faz sentido para os utilizadores da Apple? Mais ou menos.
A experiência Uber é muitas vezes uma experiência iPhone, logo já existe afinidade. Se a Apple estiver a construir um carro – e se as suas tentativas envolverem veículos autónomos – a Apple + Uber serão imparáveis.
De uma perspetiva de negócio, a Apple está também a tatear a sua Próxima Grande Coisa. O Apple Watch ainda não encantou o mundo. Os rumores de planos para uma TV ou serviço de TV ainda não tomaram forma – sob a forma de um grande serviço que leve os consumidores a realmente querer comprar. Os planos quanto a um carro irão levar algum tempo.
Sim, uma estratégia de resgate da Uber, de 80 mil milhões de dólares, seria uma hipótese.
No entanto, quanto mais dinheiro a Uber receber, mais difícil será a sua queda. Se o setor da tecnologia entrar em colapso como resultado a Apple será insultada. É claro que poderá não se importar com a queda de todos os unicórnios – enquanto as vendas do iPhone sobreviverem.
No entanto, não é todos os dias que surge uma Uber. Nem mesmo todos os séculos. Poderá utilizar o argumento de que fez pelo transporte o que a Apple fez pelo computador pessoal e, mais tarde, pela revolução smartphone. Se sobreviver, poderá mudar tudo. Então, a Apple poderá comprá-la; ou poderá desperdiçar o seu dinheiro com aquisições menores aqui e ali; ou poderá procurar outro produto inovador.
E depois existe a noção de que a Apple é a madrinha de Silicon Valley, com um propósito maior, um que vai além do dinheiro – de muito dinheiro – todos os anos.
Então, porque não? Podes salvar os unicórnios Apple. Podes salvá-los a todos.