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A Apple permitiu, pela primeira vez, a entrada de um jornalista ocidental na fábrica da Pegatron Corp, em Xangai, onde são produzidos iPhones

Alinhados com uma precisão militar, centenas de funcionários esperam para produzir iPhones em uma das fábricas mais secretas da linha de produção da Apple.

Os funcionários se vestem com fardas rosa, toucas azuis para o cabelo e chinelos de plástico. Os seus cartões de identificação são processados pelo iPad do supervisor na chamada matinal.

Depois disso, vão em fila para a linha de montagem – mas não antes de passarem pelas máquinas de reconhecimento facial, nas catracas de segurança, para bater o ponto.

A Pegatron Corp emprega até 50.000 pessoas para montar iPhones na sua fábrica em Xangai, que ocupa uma área do tamanho de 90 campos de futebol.

Eficiência militar: centenas de trabalhadores alinham-se para a chamada na fábrica Pegatron em Xangai, na China, que produz iPhones para a Apple.

Bater o ponto: um supervisor segura num iPad enquanto verifica o cartão de identificação do funcionário – durante a chamada na fábrica Pegatron em Xangai, na China.

Controle rigoroso: um supervisor registra a presença do funcionário num iPad durante a chamada matinal antes do segundo se dirigir à linha de montagem do iPhone.

Um supervisor verifica os nomes dos funcionários na fábrica Pegatron, o local secreto onde são produzidos os mais rentáveis _smartphones_ do mundo.

Chamada: após vários anos a serem alvo de acusações, a Pegatron e a Apple adotaram novos procedimentos para garantir que os funcionários não trabalham horas a mais.

Ao entrar no recinto, os funcionários têm de passar por detetores de metal criados para detectar qualquer câmara ou equipamento de gravação de vídeo que possa ser usado para divulgar detalhes sobre qualquer potencial nova tecnologia não lançada.

De seguida, sobem umas escadas com redes de segurança nos vãos – para prevenir acidentes ou tentativas de suicídio – antes de vestir os uniformes e se alinharem para a chamada.

Os mecanismos interiores da fábrica tinham permanecido, até agora, um segredo muito bem guardado.

No entanto, as duas empresas permitiram, pela primeira vez, a entrada de um jornalista ocidental depois de terem sido acusadas durante vários anos de forçar os funcionários a trabalhar horas extenuantes.

Jenny Chan, docente no Kellogg College em Oxford, afirmou que “o fato de as empresas terem dado autorização a um repórter para entrar mostra que estão respondendo a pressões externas e a tentar ser mais transparentes. Pelo menos, à primeira vista, parecem estar tentando resolver as coisas.”

De acordo com a China Labor Watch (uma organização não-governamental cujo objetivo passa pela defesa dos direitos dos trabalhadores chineses), os salários mínimos são tão baixos que os trabalhadores são forçados a trabalhar horas-extra para sobreviver, tendo uma funcionária revelado que o seu salário era de 2.020 yuans (aproximadamente 272 euros) por mês. Um iPhone 6 na China custa 4.488 yuans (aproximadamente 603 euros).

Os funcionários se alinham para a chamada na fábrica Pegatron Corp em Xangai, na China, antes de se dirigirem à linha de montagem para mais um dia de trabalho.

Ao trabalho: a equipa de montagem usa uma touca azul na cabeça e chinelos de plástico. Aqui dirige-se para a área da linha de montagem após a chamada.

Um exército de trabalhadores: quase 50.000 pessoas montam iPhones na fábrica que faz parte da cadeia de abastecimento mais bem guardada da Apple Inc.

Em marcha: os trabalhadores seguem setas no chão – e _posters_ inspiradores na parede – enquanto se dirigem para a linha de montagem.

Picar o ponto: os funcionários dirigem-se à linha de montagem onde são montados os _smartphones_ mais rentáveis para a Apple.

Durante a visita guiada dada ao repórter da Bloomberg, o diretor das instalações John Sheu referiu que o novo sistema de identificação foi introduzido para melhorar a eficiência, acrescentando que ali “todos os segundos contam”.

Contudo, Sheu também contou que o sistema permite igualmente que a empresa controle o número de horas que os trabalhadores fazem, enviando mensagens automáticas aos gestores caso um trabalhador esteja quase a atingir o limite de 60 horas semanais ou tenha botido o ponto seis dias seguidos.

A Pegatron refere que a empresa segue as diretrizes da Electronic Industry Citizenship Coalition (EICC) que determina como limite para horas extraordinárias 80 horas mensais, enquanto a Apple afirma que os seus fornecedores seguem o código de conduta da indústria.

O sistema também proporciona um maior nível de transparência quanto ao rendimento ao permitir que os funcionários possam verificar as horas que fizeram, as folhas de vencimento e as despesas de alojamento e alimentação mensais nos terminais touchscreen espalhados por todo o campus.

Um funcionário olha para o dispositivo de reconhecimento facial que regista os trabalhadores quando entram na área da linha de montagem na fábrica Pegatron.

Os funcionários olham para os dispositivos de reconhecimento facial enquanto passam os cartões de identificação para entrar na área da linha de montagem da fábrica Pegatron em Xangai.

Hora de trabalhar: os funcionários passam pelas catracas para entrar na área da linha de montagem na fábrica Pegatron Corp em Xangai, na China.

A fábrica é uma das instalações de produção do iPhone mais secretas e cobre uma área igual a quase 90 campos de futebol.

Uma funcionária usa o dispositivo de reconhecimento facial enquanto passa o cartão de identificação para entrar na área da linha de montagem na fábrica Pegatron Corp.

O acesso à fábrica foi concedido um mês depois de a família de um funcionário da fábrica de 26 anos ter argumentado que o jovem morreu por ter trabalhado aproximadamente 12 horas por dia.

Tian Fulei foi encontrado morto no dia 3 de fevereiro em um dormitório que partilhava com outros trabalhadores da Pegatron perto de Xangai.

Foi apresentado em tribunal o veredito de “morte súbita”, mas não foi realizada nenhuma autópsia.

A família de Tian referiu que este trabalhava horas a fio na Pegatron. A sua morte ocorreu em menos de dois meses após uma investigação encoberta, realizada pela BBC Panorama, ter revelado como os trabalhadores trabalhavam até ficarem à beira do colapso.

A sua irmã, Tian Zhoumei, contou ao MailOnline que o irmão era uma pessoa saudável até à data da sua morte, afirmando que a causa foram as horas em excesso que trabalhou.

A Pegatron negou qualquer ligação entre a morte e o seu ambiente de trabalho.

A morte de Tian salienta outra vez as preocupações com as condições de trabalho dos trabalhadores com salários baixos – que alimentam as exigências do mundo por produtos da Apple.

A empresa anunciou que alcançou o seu maior lucro trimestral de sempre em janeiro, registando 11,8 bilhões de libras (aproximadamente 13,8 mil milhões de euros) no seu primeiro trimestre fiscal. Foram vendidos mais de 74,5 milhões de iPhones em todo o mundo nesse período de três meses que terminou no dia 27 de dezembro do ano passado.

A família de Tian recebeu 80.000 yuans (aproximadamente 10.755 euros) como “gesto de solidariedade” da Pegatron – uma quantia que foi elevada de 15.000 yuans (aproximadamente 202 euros) depois de a polícia ter ajudado nas negociações.

Na declaração constava a seguinte mensagem: “A segurança e o bem-estar dos nossos funcionários são as nossas principais prioridades e esforçamo-nos para garantir que todas as instalações da Pegatron proporcionam um ambiente de trabalho saudável para os nossos trabalhadores.

Estamos profundamente consternados pela perda de Tian Fulei que trabalhava connosco como inspetor visual na linha de montagem das nossas instalações de Xangai.

Tratámos imediatamente da investigação das circunstâncias do caso e não foram descobertas quaisquer ligações com o ambiente de trabalho. Oferecemos apoio e assistência à família de Tian e os nossos pensamentos estão com eles neste momento tão difícil.”

Um porta-voz do departamento Supplier Responsibility (Responsabilidade do Fornecedor) da Apple afirmou que a empresa iria dar atenção às queixas relacionadas com a morte, mas se recusou a fazer comentários sobre o assunto.

Imagem industrial: um funcionário veste o uniforme perto do seu cacifo antes de se dirigir para a chamada matinal.

Funcionários passam por filas de cacifos. A Pegatron afirma que adotou o novo sistema de identificação para criar um ambiente de trabalho mais eficiente e responsável.

Mais parecido com um aeroporto: vários funcionários sentados no centro de serviços de funcionários da fábrica Pegatron Corp em Xangai, na China.

Dois funcionários olham para os seus _smartphones_ enquanto estão sentados no centro de serviços de funcionários da fábrica Pegatron Corp em Xangai, na China.

Vários funcionários verificam as suas folhas de vencimento nos terminais num centro de serviços de funcionários dentro da fábrica Pegatron Corp em Xangai.

Pausa: um funcionário compra duas espetadas de salsicha durante a pausa para o almoço na cantina da fábrica.

Uma parede com fotografias de funcionários num centro de serviços de funcionários na fábrica Pegatron Corp em Xangai, na China.

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