Está preparado para lidar com inteligência artificial numa base diária?
Todos os dezembros, a Kickstarter olha para as grandes ideias dos últimos 12 meses que prometem ganhar força no ano seguinte. Com mais de 11 mil projetos lançados nas categorias de Design e Tecnologia em 2016, tem uma vasta gama de opções por onde escolher. E tem, sobretudo, uma comunidade de apoiantes visionários que ajuda os criadores a escolher as melhores versões do futuro. Eis algumas tendências recentes que poderão ser mais desenvolvidas em 2017.
Ouvir a um novo nível
Já que os auscultadores entraram para a lista de produtos em vias de extinção graças à Apple (NASDAQ: AAPL), vários projetos testaram os limites do som estéreo tradicional.
Os Ossic levam a imersão especial da realidade virtual até aos meios audiovisuais enquanto os fones Nura personalizam o som, adaptando-o aos perfis de audição do usuário. O subwoofer Basslet, que usamos no corpo, nos lembra que o som se sente com todo o corpo e traz o baixo visceral de uma discoteca até a audição pessoal de música. Estamos ansiosos por ver mais dispositivos de escuta criativos, sobretudo à medida que as interfaces para o usuário baseadas no som e controle por voz se tornam uma característica mais comum em um produto. O que nos traz até o próximo ponto…
Inteligência artificial no dia a dia
Apesar da ideia de conversar com um dispositivo como se de um assistente virtual se tratasse parecer um sonho de ficção científica ou um pesadelo distópico, começamos a ver cada vez mais produtos a usar interfaces com inteligência artificial ativada pela voz para que se insiram mais facilmente nas vidas dos usuários.
Entre os projetos pioneiros desta área encontramos os Vi, fones sem fios que servem também de personal trainer; o Bonjour, um despertador que o acorda com instruções personalizadas diárias; e o Dashbot, um acessório falante para o carro que nos lembra o Kit, o amigo de David Hasselhoff da série “O Justiceiro”.
Uma das razões pelas quais vemos tantos dispositivos de inteligência artificial é o facto de terem aparecido plataformas como os Serviços Cognitivos da Microsoft, a Alexa da Amazon e o sistema de reconhecimento de voz da Google, que permitem que os criadores se concentrem na experiência do usuário e não no processamento de discurso básico. Para os mais engenhosos, o ReSpeaker da Seeed oferece um dispositivo pronto a instalar que permite a você trabalhar com estes serviços – e veremos em breve mais ferramentas que integrem interfaces de inteligência artificial numa vasta gama de produtos.
Inteligência coletiva e dados provenientes da comunidade
Mas a inteligência artificial tem as suas limitações. O cérebro humano é muito útil, sobretudo quando muitos trabalham juntos. O Blubel, o Oombrella e o Wynd são dispositivos ligados entre si que recolhem informações de usuários individuais sobre os caminhos mais seguros para os ciclistas, as condições atmosféricas e a qualidade do ar, respetivamente, reunindo estes dados dispersos para tornar o sistema mais inteligente. Esperamos ver designers e usuários a abraçar esta abordagem transparente e importante à recolha de dados, sobretudo porque a fronteira tênue entre as nossas vidas físicas e virtuais levanta algumas preocupações sobre a privacidade e a recolha de dados.
Dispositivos personalizáveis para crianças
Quer acredite que aprender código é uma competência importante para as crianças do século XXI ou queira apenas incentivar os jovens viciados a passarem menos tempo a olhar passivamente para telas, o número crescente de produtos adaptáveis que introduzem de forma criativa as crianças no mundo da tecnologia são uma tendência a adotar.
A Kano, a Technology Will Save Us e a Makeblock criaram kits faça-você-mesmo que misturam uma aprendizagem adequada a principiantes com uma imensa liberdade para a descoberta e a invenção. Os encantadores robôs da Cubetto e da Root convidam as crianças desde os três anos a explorarem conceitos básicos de programação através de interfaces físicas lúdicas.
Para além de ser pedagógica, a possibilidade de adaptar os brinquedos tem a vantagem de os manter sempre interessantes à medida que as crianças crescem. Esperamos ver mais marcas a incorporar elementos personalizáveis que convidem os mais novos a reinventar os seus brinquedos.
Uma fábrica no seu ambiente de trabalho
Foi apresentado – na World Maker Faire deste ano, em Nova Iorque – o Future Fab Lab, uma coleção de máquinas de fabrico digital (impressoras 3D e não só) que adaptam as técnicas de fabrico que encontramos em fábricas aos ambientes de trabalho dos artesãos.
Entre as várias máquinas encontramos o cortador com jato de água da Wazer, capaz de moldar metal e pedra com precisão, o cortador a laser intuitivo da Beam e a FormBox da Mayku, uma máquina de vácuo compacta capaz de moldar plástico. Estas máquinas foram concebidas para a produção de produtos sólidos, mas esperamos que este conceito se estenda a outro tipo de indústria, como a indústria têxtil, a da moda e a alimentar.
Investigação espacial e história
Embora possa não conter megaestruturas extraterrestres como antigamente se pensava, a KIC 8462852 continua sendo a estrela mais misteriosa da galáxia. A campanha da astrônoma Tabetha Boyajian convidou os adeptos do espaço a seguirem a sua viagem rumo à descoberta dos estranhos padrões de luz que irradiam deste corpo celeste. 2017 será um ano importante para esta abordagem democrática à exploração espacial.
Lightsail, a vela solar da Sociedade Planetária, tem lançamento previsto para este ano, concretizando a ideia que Carl Sagan popularizou em 1976. A Ozma Records está a criar uma nova edição de luxo dos Discos de Ouro da Voyager, outro projeto com 40 anos concebido por Sagan, um dispositivo que recolhe sons da Terra para enviar uma mensagem interestelar aos extraterrestres. Com a ajuda de mais de 10 mil apoiantes, se tornou o projeto musical mais financiado de sempre. Desconfiamos que será um prenúncio de mais projetos intrigantes que estão por vir e que fascinarão o público graças ao passado histórico da exploração espacial e ao seu futuro promissor.
Arte tecnológica para a nossa casa
Uma das mais imprevisíveis histórias de sucesso do Kickstarter de 2016 foi o Sisyphus, a escultura cinética meditativa de Bruce Shapiro, que desenha lentamente padrões complexos em uma mesa coberta de areia com uma esfera metálica. O projeto reuniu muitos apoiantes e se tornou o projeto artístico mais financiado de sempre.
A moldura Slow Dance de Jeff Lieberman também usa a engenharia ao serviço da poesia, criando a ilusão de que objetos reais se deslocam em câmara lenta perante os nossos olhos.
Em 2014, a Electric Objects explorou este território com projeções digitais de coleções de obras de arte – uma espécie de Netflix para as artes visuais.
Adoraríamos ver mais exemplos de tecnologia ao serviço da arte, concebida para morar nas casas das pessoas e não nas paredes de museus e galerias.