América do Sul: liderança feminina em queda
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O destino das três líderes contrasta fortemente com a sua posição de há cinco anos atrás

A antiga presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi acusada de ter colocado as finanças da nação em risco. No Brasil, a presidente Dilma Rousseff encara um processo de impeachment – e o seu sucessor, Michel Temer, nomeou um governo sem qualquer representação feminina. No Chile, a presidente Michelle Bachelet, em tempos bastante popular, encara uma taxa de aprovação em queda.

O que aconteceu às mais influentes mulheres da América do Sul?

Kirchner foi indiciada na sexta-feira, Rousseff foi suspensa pelo Congresso no dia anterior e o governo de Bachelet está a tornar-se profundamente impopular.

O destino das três líderes contrasta fortemente com a sua posição há cinco anos atrás. Rousseff começou a sua presidência em 2011, Kirchner venceu um segundo mandato consecutivo e Bachelet, depois de ter completado o primeiro mandato presidencial com mais de 80% de taxa de aprovação, dirigiu uma agência das Nações Unidas.

De acordo com especialistas, o género não é a causa dos atuais problemas das líderes. No entanto, os mesmos acrescentam que o declínio coletivo das três mulheres aponta para a persistência de atitudes machistas na região, especialmente dentro da classe política.

“Há forças poderosas em jogo a resistir à mudança.” – Afirmou Sergio Berensztein, comentador político na Argentina, enquanto se referia ao facto das três líderes estarem a perder terreno nos corredores do poder na América do Sul.

Berensztein afirmou que a situação das três líderes deve ser considerada no contexto mais amplo das crises vivenciadas por presidentes – homens e mulheres – em exercício de funções por toda a região. Os escândalos de corrupção e a incapacidade para retirar pleno partido das receitas das commodities – como o petróleo, cobre e soja – têm conduzido ao aumento da insatisfação.

Enquanto os estudiosos do género lidam com a análise dos fatores por detrás da queda de Kirchner e Rousseff, também salientam o aparecimento de outras figuras políticas do género feminino na região.

Maria Eugenia Vidal foi eleita no ano passado como governadora de Buenos Aires – a maior e mais populosa província da Argentina. Marina Silva esteve, durante algum tempo, na corrida presidencial no Brasil em 2014 – e Keiko Fujimori poderá tornar-se presidente do Peru nas eleições do próximo mês.

Kirchner assumiu o cargo em 2007, a partir do seu marido – Nestor Kirchner, que morreu em 2010. Muito antes da mesma, Eva Perón, provavelmente a mulher mais famosa da Argentina, ganhou destaque na década de 1940 ao lado do seu marido, o antigo presidente Juan Perón. E Rousseff foi escolhida por Lula da Silva, o seu antecessor.

Vários funcionários do governo de Kirchner, incluindo o seu antigo vice-presidente Amado Boudou, foram envolvidos em casos de corrupção – e a mesma foi indiciada (e destacada) por acusações relacionadas com um escândalo financeiro (que nega).

  • No Brasil, criou-se indignação pública ao redor de Rousseff no seguimento do escândalo relacionado com a empresa nacional de petróleo – o que ajudou a acelerar o processo de impeachment, embora a mesma não seja diretamente referida na investigação relacionada com a Petrobras.
  • No Chile, recentes acusações de corrupção têm embaraçado diversos empresários e políticos – mas foi o caso que envolveu uma cunhada de Bachelet que levou à queda do seu índice de aprovação.

De acordo com Farida Jalalzai, professora de Política do Género na Universidade Estatal de Oklahoma:

“É como se as mulheres líderes estivessem a receber todas as reações pela corrupção dos homens. (...) Seria surpreendente se não se verificasse dinâmica relacionada com o género por detrás disto.”

Embora o sistema de quotas tenha impulsionado as carreiras de mulheres na política na região, existe a sensação generalizada de que as atitudes tradicionais não diminuíram. No Brasil, por exemplo, o novo presidente – Michel Temer – nomeou uma equipa desprovida de mulheres.

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